quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Síndrome rara fez americana ser atacada pela própria mão


Imagem de vídeo que mostra mão esquerda de Karen Byrne 
estapeando-a


Imagine ser atacado por uma de suas próprias mãos, que tenta repetidamente estapear e socar você. Ou então entrar em uma loja e tentar virar à direita e perceber que uma de suas pernas decide que quer ir para a esquerda, fazendo-o andar em círculos.
Essa realidade é bem conhecida da americana Karen Byrne, de 55 anos, que sofre de uma condição rara chamada Síndrome da Mão Alheia.
A síndrome de Byrne é fascinante, não somente por ser tão estranha, mas também por ajudar a explicar algo surpreendente sobre como nossos cérebros funcionam.
O problema começou após ela passar por uma cirurgia, aos 27 anos, para controlar sua epilepsia, que havia dominado sua vida desde seus 10 anos de idade.
A cirurgia para curar a epilepsia normalmente envolve identificar e depois cortar um pequeno pedaço do cérebro no qual os sinais elétricos anormais se originam.
Quando isso não funciona, ou quando a área danificada não pode ser identificada, os pacientes precisam passar por uma solução mais radical.
No caso de Byrne, seu cirurgião cortou seu corpo caloso, um feixe de fibras nervosas que mantém os dois hemisférios do cérebro em permanente contato.
Novo problema
O corte do corpo caloso curou a epilepsia de Byrne, mas a deixou com um problema totalmente diferente.
Ela conta que inicialmente tudo parecia bem, mas que então os médicos começaram a notar um comportamento extremamente estranho.
‘O médico me disse: ‘Karen, o que você está fazendo? Sua mão está te despindo’. Até ele dizer isso eu não tinha percebido que minha mão esquerda estava abrindo os botões da minha camisa”, diz.
“Então eu comecei a abotoar a camisa novamente com a mão direita, mas assim que eu terminei, a mão esquerda começou a desabotoar de novo. Então o médico fez uma chamada de emergência para um outro médico e disse: ‘Mike, você precisa vir aqui imediatamente, temos um problema’.”
Karen Byrne havia saído da operação com uma mão esquerda que estava fora de controle.
“Eu acendia um cigarro, colocava-o no cinzeiro e então minha mão esquerda jogava-o fora. Ela tirava coisas da minha bolsa sem que eu percebesse. Perdi muitas coisas até que eu percebesse o que estava acontecendo”, diz.
Em alguns casos, a mão esquerda dela chegava a estapeá-la, sem controle. Ela conta que seu rosto chegava a ficar inchado com tantos golpes.
Luta de poder
Karen Byrne

O problema de Byrne foi provocado por uma luta por poder dentro de sua cabeça.
Um cérebro normal é formado por dois hemisférios que se comunicam entre si por meio do corpo caloso.
O hemisfério esquerdo, que controla o braço e a perna direitos, tende a ser onde residem as habilidades linguísticas.
O hemisfério direito, que controla o braço e a perna esquerdos, é mais responsável pela localização espacial e pelo reconhecimento de padrões.
Normalmente o hemisfério esquerdo, mais analítico, domina e tem a palavra final nas ações que desempenhamos.
A descoberta do domínio hemisférico tem sua raiz nos anos 1940, quando os cirurgiões decidiram começar a tratar a epilepsia com o corte do corpo caloso.
Após a recuperação, os pacientes pareciam normais. Mas nos círculos psicológicos eles se tornaram lendas.
Isso porque esses pacientes revelariam, com o tempo, algo que parece incrível – que as duas metades do nosso cérebro têm cada um uma espécie de consciência separada. Cada hemisfério é capaz de ter sua própria vontade independente.
Experiências
O homem que fez muitas das experiências que primeiro provaram essa tese foi o neurobiólogo Roger Sperry.
Em um estudo particularmente notável, que ele filmou, é possível ver um dos pacientes com o cérebro dividido tentando resolver um quebra-cabeças.
O quebra-cabeças exigia o rearranjo de blocos para que eles correspondessem a padrões em uma imagem.
Primeiro o homem tentou resolver o quebra-cabeças com sua mão esquerda (controlada pelo hemisfério direito), com bastante sucesso.
Então Sperry pediu ao paciente que usasse sua mão direita (controlada pelo hemisfério esquerdo). Essa mão claramente não tinha nenhuma ideia de como fazê-lo.
A mão esquerda então tentou ajudar, mas a mão direita parecia não querer ajuda, então elas terminaram brigando como se fossem duas crianças.
Experiências como essa levaram Sperry a concluir que “cada hemisfério é um sistema de consciência isolado, percebendo, pensando, lembrando, raciocinando, querendo e se emocionando”.
Em 1981 Sperry recebeu um prêmio Nobel por seu trabalho. Mas em uma ironia cruel do destino, ele então já sofria com uma doença degenerativa do cérebro, chamada kuru, provavelmente contraída em seus primeiros anos de pesquisas com cérebros.
Medicação
A maioria das pessoas que tiveram seus corpos calosos cortados parecem normais posteriormente. Você poderia cruzar com eles na rua e não saberia que algo havia acontecido.
Karen Byrne teve azar. Após a operação, o lado direito de seu cérebro se recusava a ser dominado pelo lado esquerdo.
Ela sofreu com a Síndrome da Mão Alheia por 18 anos, mas felizmente para ela seus médicos encontraram uma medicação que parece ter trazido o lado direito de seu cérebro de volta ao controle.
A história de Byrne foi contada no último programa da série da BBC The Brain (O Cérebro), que foi ao ar na Grã-Bretanha na quinta-feira.      

Artigo de: http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2011/01/110121_sindrome_mao_alheia_cerebro_rw.shtml
             

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cientistas mapeiam DNA de feto a partir de sangue da mãe



Um estudo da Universidade Chinesa de Hong Kong conseguiu mapear o DNA de um bebê ainda no útero a partir de um exame do sangue da mãe.
Os pesquisadores afirmam que este novo exame é menos invasivo e arriscado que os disponíveis atualmente, que envolvem a retirada de células da placenta ou a remoção de fluido do útero, através de uma injeção.
Estes exames geralmente oferecem o risco, ainda que baixo, de desencadear uma infecção ou aborto, então são feitos apenas quando a probabilidade de uma doença genética, como a Síndrome de Down por exemplo, é alta.
Mas a nova pesquisa, publicada na revista especializada Science Translational Medicine, permite a detecção de uma série de doenças com apenas um exame de sangue.
Descoberta
Em 1997, o pesquisador Dennis Lo, que liderou o estudo, e sua equipe descobriram a presença de DNA do feto no plasma sanguíneo da mãe. Esta descoberta abriu a possibilidade de novos exames pré-natais.
Para investigar se este exame era cientificamente possível, Lo e sua equipe primeiro tiveram que demonstrar que o genoma completo do feto estava presente no plasma do sangue da mãe.
Depois de um resultado positivo, a equipe de pesquisadores desenvolveu a tecnologia necessária para um exame de DNA completo do bebê que não fosse invasivo.
Os pesquisadores afirmam que esta tarefa é muito difícil, pois as moléculas de DNA no plasma sanguíneo são muito fragmentadas.
"É como tentar montar um quebra-cabeça que tem milhões de peças. Para piorar, as moléculas de DNA do feto no plasma sanguíneo da mãe estão cercadas por um oceano de moléculas de DNA da mãe", disse Dennis Lo.
"Isto é parecido com acrescentar dezenas de milhões de peças de outro quebra-cabeça e então tentar montar o primeiro."
DNA do pai
Para conseguir mapear o DNA do bebê em meio a tantas moléculas de DNA, a equipe de pesquisadores sequenciou cerca de 4 bilhões de fragmentos de DNA da amostra de plasma sanguíneo da mãe.
Então, os pesquisadores procuraram traços genéticos do bebê que estavam presentes apenas no DNA do pai e ausentes na mãe. Analisando estas duas assinaturas genéticas juntas, a equipe elaborou o mapa genético de sequências que o feto tinha herdado do pai.
A montagem do mapa genético que o bebê herdou da mãe foi muito mais difícil, pois o DNA do feto representava apenas 10% do DNA no plasma sanguíneo da mãe. Os outros 90% eram o DNA da própria mãe.
Ao combinar o mapa genético herdado do pai e o mapa herdado da mãe, os pesquisadores conseguiram elaborar o mapa genético do feto.
Para este estudo, os cientistas recrutaram um casal que fazia exames pré-natais para tentar detectar talassemia beta, uma doença genética comum no sul da Ásia, que causa anemia. Os cientistas então descobriram, com o uso do novo exame, que o bebê tinha herdado o problema do pai, ou seja, era o portador da doença.
Os pesquisadores de Hong Kong esperam que o novo exame possa detectar outro problemas genéticos em bebês ainda não nascidos, como Síndrome de Down, Síndrome de Patau (que pode causar graves problemas físicos e mentais) e, no futuro, detectar ainda distrofia muscular e hemofilia.


Texto original publicado em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/12/101209_exame_dna_utero_fn.shtml