Em uma cirurgia pioneira,
médicos "desligaram" metade do cérebro de uma menina de um ano de idade
portadora de uma doença neurológica rara que acarreta frequentes
convulsões.
Angelina Mills, de Norfolk, no leste da
Inglaterra, apresentou os primeiros sintomas da síndrome de Sturge-Weber
no nascimento, quando a doença normalmente se manifesta.
A síndrome congênita é causada por má formação
nos vasos de um dos lados do cérebro, normalmente o mais fraco. É comum
que a doença seja acompanhada de convulsões e cause dificuldade de
aprendizado.
Como praxe, o tratamento da síndrome de
Sturge-Weber é sintomático, através do uso de medicamentos
anticonvulsantes, terapia física para reduzir a fraqueza, cirurgia
plástica para remover a mancha e monitoramento de sinais de glaucoma.
A cirurgia que "desligou" o lado afetado do
cérebro de Angelina, conduzida no hospital infantil de Great Ormond
Stret, em Londres, foi considerada "pioneira".
Abalo
"Sabíamos que havia uma chance de Angelina ter a
síndrome porque havíamos lido (sobre isso) na internet, mas eu
continuava otimista", disse à BBC o pai da menina, Stephen Mills.
Ele contou que não quis acreditar a princípio
que sua filha sofresse da condição, apesar de Angelina ter nascido com
uma mancha vermelha no rosto, um dos sintomas da doença, causada pelo
inchaço dos vasos.
"As primeiras convulsões abalam tanto que é difícil acreditar no que está acontecendo. Não parecia real."
A mãe de Angelina, Lisa Massingham, disse que a
doença praticamente eliminou a vida social da família, que evitava fazer
programas fora de casa por temor de convulsões.
"Durante nove meses, desde que ela tinha 18
semanas, nunca saíamos de casa com Angelina. Ela tinha convulsões todos
os dias. Era assustador", afirmou.
"Sabíamos que tantas convulsões poderiam levar a um ataque e ela poderia morrer."
Choque
O casal disse que ficou em choque quando o
hospital sugeriu desligar a camada mais externa do lado direito do
cérebro de Angelina.
A princípio, disse Stephen, os pais tinham dificuldade até de falar no assunto.
"A princípio, aceitar algo tão drástico foi demais para mim, quanto mais conversar sobre isso com Lisa", disse.
"Não conseguíamos liberar as nossas emoções", acrescentou Lisa.
Depois da cirurgia, Angelina agora é "uma
criança totalmente diferente", diz a mãe. A menina é bastante "ativa" e a
família pode levar uma vida normal.
"Desde a operação, ela nunca mais teve
convulsões. Cruzo os dedos todos os dias para não voltem a acontecer, e
elas nunca mais aconteceram", disse a mãe.
"Angelina é uma garota brilhante e vê-la me traz inspiração todos os dias."
http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2011/05/110523_crianca_cerebro_pu.shtml