terça-feira, 26 de julho de 2011

Estudo indica que estresse da mãe afeta bebê no útero

Atualizado em  20 de julho, 2011 - 05:34 (Brasília) 08:34 GMT






Alterações biológicas em receptor de hormônios podem prejudicar a criança no futuro
O estresse de uma mãe pode afetar seu bebê ainda no útero, produzindo efeitos a longo prazo na vida da criança, sugerem pesquisadores alemães.
A equipe da Universidade de Kontanz, na Alemanha, observou que houve alterações biológicas em um receptor de hormônios associados ao estresse em fetos cujas mães estavam sob tensão intensa - por exemplo, por conviverem com um parceiro violento.
As alterações sofridas pelo feto podem fazer com que a própria criança seja menos capaz de lidar com o estresse mais tarde. Essas alterações foram associadas, por exemplo, a problemas de comportamento e doenças mentais.
As conclusões, baseadas em um estudo limitado feito com apenas 25 mulheres e seus filhos - hoje com idades entre 10 e 19 anos -, foram publicadas na revista científica Translational Psychiatry.
Os pesquisadores fazem algumas ressalvas: eles explicam que as circunstâncias das mulheres que participaram desse estudo eram excepcionais, e que a maioria das mulheres grávidas não seria exposta a graus tão altos de estresse durante um período tão longo.
A equipe enfatiza também que os resultados não são conclusivos, e que muitos outros fatores, entre eles o ambiente social em que a criança cresceu, podem ter desempenhado um papel nos resultados.
Mas os especialistas alemães suspeitam que o ambiente primordial, ou seja, o do útero, tenha papel crucial.
Investigação
O estudo envolveu análises dos genes das mães e dos filhos adolescentes para a identificação de padrões pouco comuns.
Alguns dos adolescentes apresentaram alterações em um gene em particular - o receptor de glucocorticoide (GR) - responsável por regular a resposta hormonal do organismo ao estresse.
Esse tipo de alteração genética tende a acontecer quando o bebê está se desenvolvendo, ainda no útero.
A equipe disse acreditar que ela seja provocada pelo estado emocional ruim da mãe durante a gravidez.
Sensibilidade
Durante a gravidez, as mães participantes viveram sob ameaça constante de violência por parte de seus maridos ou parceiros.
Entre dez ou vinte anos mais tarde, quando os bebês, já adolescentes, foram avaliados, os especialistas constataram que eles apresentavam alterações genéticas no receptor GR não observadas em outros adolescentes.
A alteração identificada parece tornar o indivíduo mais sensível ao estresse, fazendo com que ele reaja à emoção mais rapidamente, dos pontos de vista mental e hormonal.
Essas pessoas tendem a ser mais impulsivas e podem ter problemas para lidar com suas emoções, explicam os pesquisadores - que fizeram entrevistas detalhadas com os adolescentes.
Um dos líderes da equipe da Universidade de Kontanz, Thomas Elbert, disse: "Nos parece que bebês que recebem de suas mães sinais de que estão nascendo em um mundo perigoso respondem mais rápido (ao estresse). Eles têm um limite mais baixo de tolerância ao estresse e parecem ser mais sensíveis a ele".
A equipe planeja agora fazer estudos mais detalhados, acompanhando números maiores de mulheres e crianças para verificar se suas suspeitas serão confirmadas.
Comentando o estudo, o médico Carmine Pariante, especialista em psicologia do estresse do Instituto de Psiquiatria do King's College London, disse que o ambiente social da mãe é de extrema importância para o desenvolvimento do bebê.
Segundo ele, durante a gravidez, o bebê é sensível a esse ambiente de uma forma única, "muito mais, por exemplo, do que após o nascimento. Como temos dito, lidar com o estresse da mãe e com a depressão durante a gravidez é uma estratégia importante, clínica e socialmente".

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Nova técnica permite sequenciamento genético rápido e barato

Descoberta promete mapear DNA humano por 1.500 reais em até duas horas

Alessandro Greco, especial iG São Paulo | 20/07/2011 14:27


Foto: Ion Torrents 
Chips descartáveis vão baratear processo de sequenciamento genético
Pesquisadores desenvolveram um novo método para o sequenciamento genético. Eles afirmam que com o sistema será possível mapear o DNA humano por menos de mil dólares (R$1.560) e em até duas horas. A previsão é que isto aconteça já em 2013.

O sistema não óptico tem como base um chip descartável que faz a leitura do DNA. O chip traduz as informações químicas do código genético (A, C, G, T) em um sistema binário de zeros e uns. “Da mesma forma que os chips de computadores, podemos fazer os chips descartáveis cada vez mais rápidos e baratos. O novo sistema é também 100 vezes mais rápido que os convencionais”, disse ao iG Jonathan Rothberg, principal autor do artigo publicado hoje no periódico científico Nature. Rothberg é fundador da empresa IonTorrent, criadora do chip e da máquina que faz o seqüenciamento.
O sequenciamento do primeiro genoma humano terminado em 2001 custou três bilhões de dólares (R$ 4,7 bilhões). De lá para cá, o preço caiu exponencialmente, mas a tecnologia usada tem sempre a mesma base: sistemas de leitura ópticos que exigem a infraestrutura de lasers e câmeras que custa caro.

No estudo, os pesquisadores sequenciaram o genoma de três bactérias diferentes (Vibrio fisheri, E. coli e Rhodopseuomanas palustris) e de uma pessoa, que recebeu o nome de G. Moore. Como o chip da IonTorrent é feito em um processo similar ao da fabricação de chips para microcomputadores, não é coincidência que o G. seja de Gordon, fundador da Intel, gigante e pioneira da fabricação de microprocessadores.

Rothberg conta que graças ao chip não óptico, o código genético da bactéria E. coli foi decifrado rapidamente. Em junho, um surto da bactéria na Europa deixou mais de 2,4 mil pessoas doentes, ao menos 24 morreram.

Medicina personalizada
A nova técnica atende aos objetivos do Instituto Americano de Pesquisa em Genoma Humano que quer sequenciar o DNA de uma pessoa por menos de mil dólares e em menos de um dia. A máquina, batizada de Personal Genoma Machine (PGM), foi lançada em janeiro deste ano, custa 49 mil dólares (R$ 76 mil) e cada chip sai por 99 dólares (R$155).
No caso do sequenciamento de Moore foram fabricados chips com 10 vezes mais sensores do que os chips atualmente no mercado. “No artigo mostramos que superamos a limitação técnica. Acreditamos que em 2013 conseguiremos fazer um genoma humano completo por menos de mil dólares em menos de duas horas”, afirmou Rothberg.

Os pesquisadores também acreditam que o preço dos chips possa atender diversos estudos relacionados à saúde. “Atualmente o chip descartável está sendo usado para o estudo de doenças, testes genéticos e diagnóstico na área de câncer”. Este mês, a empresa lançou um novo chip dez vezes mais potente a um custo de 500 dólares (R$ 783).

A busca por um sistema de sequenciamento rápido e barato tem no seu cerne a medicina personalizada. Com a genética de um indivíduo em mãos, os médicos poderiam criar testes que avaliassem o risco de ele ter, por exemplo, predisposição a diabetes ou a um tipo de câncer.
Outra vertente seria ajudar os médicos a tomar a decisão de qual medicamento usar conforme a genética da pessoa. Isto já é feito em pequena escala com medicamentos como o Herceptin para câncer de mama que é eficaz em mulheres com um excesso de atividade no gene chamado HER2. Quanto mais informação genética estiver disponível, maiores serão as chances de que os cientistas consigam entender por que um tratamento funciona para uma pessoa e não para outra. Resta agora saber quanto tempo irá demorar para que seja possível fazer este tipo de diferenciação e em grande escala.

domingo, 10 de julho de 2011

Cirurgiões realizam transplante inédito de traqueia sintética

Atualizado em  7 de julho, 2011 - 21:15 (Brasília) 00:15 GMT

Imagem mostra o transplante sendo feito (Reuters)
Órgão foi revestido de células-tronco do paciente
A Universidade de Karolinska, na Suécia, anunciou ter realizado o primeiro transplante de traqueia sintética do mundo.
O órgão artificial, revestido com células-tronco do próprio paciente e desenvolvido por cientistas na Grã-Bretanha, foi implantado em um homem de 36 anos, vítima de câncer.
O cirurgião-chefe do procedimento, o professor italiano Paolo Macchiarini, informou que o paciente passa bem, um mês após a cirurgia.
A traqueia artificial foi desenvolvida por cientistas da University College London, liderados pelo médico Alex Seifalian, a partir de imagens em 3D captadas do órgão do próprio paciente.
A base, feita de vidro, com diversos poros, foi mergulhada em células-tronco do paciente, que se dividiram e se transformaram em tecido, dando forma à frágil estrutura que se tornaria, em seguida, a futura traqueia.
Por não ser de outro doador, a nova traqueia não corre o risco de rejeição.
Operação
Na cirurgia, que durou 12 horas, o tumor do tamanho de uma bola de golfe (que resistia à quimioterapia) foi totalmente retirado, assim como partes da traqueia doente, então substituída pela estrutura de tecido produzida artificialmente.
Células-tronco retiradas da medula óssea e da mucosa do nariz também foram implantadas durante a operação. Elas são capazes de se dividir e crescer, revestindo a traqueia artificial.
Macchiarini comemorou o avanço científico, dizendo que "a beleza" da técnica "é que você pode ter (o órgão) imediatamente. Não há nenhum atraso. Não depende de uma doação humana".
"Graças à nanotecnologia, este novo ramo da medicina regenerativa, agora somos capazes de produzir uma traqueia feita por encomenda num prazo de dois dias ou uma semana", disse.
A cirurgia ocorreu no hospital da Universidade de Karolinska. O paciente é um estudante africano que vive na Islândia. Ele sentia dificuldades de respirar e morreria sem o transplante.
Macchiarini já tem dez transplantes de traqueia em seu currículo. Ele disse que agora espera adotar a mesma técnica em um bebê na Coreia do Sul, que nasceu com uma má-formação no órgão.