No último domingo (16), a Academia Americana de Pediatria
lançou novas diretrizes ampliando a faixa etária para o diagnóstico e
tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Agora, crianças e adolescentes entre quatro e 18 anos também podem ser
diagnosticados com o transtorno. Para os mais novos, no entanto, a
Academia enfatiza o uso de tratamentos comportamentais em vez de
medicamentosos na maioria dos casos.
“Acho que a mudança mais significativa é ampliar a faixa etária de
crianças pré-escolares até a adolescência. As diretrizes originais eram
de seis a 12 anos, faixa em que as evidências do TDAH se mostravam.
Conseguimos aumentar o alcance das diretrizes porque existiam mais
evidências disponíveis para pré-escolares e adolescentes”, disse Mark
Wolraich, autor principal das novas recomendações e Professor de
Pediatria do CMRI (Children’s Medical Research) do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos.
Wolraich acrescentou que as novas diretrizes também dão aos pediatras
conselhos sobre como administrar problemas de desatenção ou
hiperatividade que não chegam a ser definidos como TDAH.
As novas diretrizes serão apresentadas no encontro anual da Academia
Americana de Pediatria em Boston, nos Estados Unidos, e o trabalho será
publicado na edição de novembro da “Pediatrics”, jornal da Academia.
De acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados
Unidos, mais de 5 milhões de crianças no país já foram diagnosticadas
com TDAH. Crianças com o transtorno apresentam sinais de desatenção,
impulsividade e hiperatividade. Elas podem ser incapazes de prestar
atenção na aula e podem passar muito tempo inquietas, se mexendo de um
lado para o outro enquanto sentadas em suas carteiras ou falando sem
parar. Embora a maioria das crianças possa exibir esse tipo de
comportamento de vez em quando, de acordo com o Instituto de Saúde
Mental dos Estados Unidos, se torna um problema quando ele prevalece na
maior parte do tempo.
O tratamento para o TDAH inclui medicamentos ou terapia comportamental,
ou ambos. Na realidade, Wolraich afirma que “a combinação dos dois é,
quando possível, provavelmente a melhor opção”.
Medicamentos em ascensão
Um recente estudo publicado em setembro no site do Jornal Americano de
Psiquiatria descobriu que o uso de medicamentos para TDAH está em
ascensão: 5% das crianças norte-americanas agora estão tomando remédios
estimulantes como a Ritalina ou Adderall para tratar o transtorno. Os
pesquisadores do estudo sugeriram que o aumento do uso dos medicamentos
pode ser devido ao maior reconhecimento do TDAH como uma condição
crônica, levando as crianças a ficarem sob efeito medicamentoso por
períodos maiores.
As novas diretrizes recomendam que, se uma criança entre quatro e seis
anos de idade possui um sério problema de TDAH, a terapia comportamental
deve ser o primeiro tratamento a ser tentado. Se necessário, os
medicamentos podem ser adicionados mais tarde.
“Embora existam menos evidências [sobre os efeitos do TDAH para esta
faixa etária], a esperança é que, ao iniciar o tratamento durante a
pré-escola, uma criança com sérios problemas de TDAH terá melhores
resultados no futuro”, disse Wolraich.
Cautela
Richard Gallagher, médico e diretor de projetos especiais do Instituto
de Déficit de Atenção e Hiperatividade e Transtornos de Comportamento do
Centro de Estudos da Infância da Universidade de Nova York, nos Estados
Unidos, afirmou: “Medicamentos deveriam ser usados com cautela. Sou
assumidamente tendencioso desde quando comecei a trabalhar com
comportamento, mas o trabalho comportamental também tem limites. Se uma
criança está entrando em situações perigosas ou apresentando problemas
para interagir apropriadamente com crianças e adultos, os medicamentos
podem ser úteis. Quando monitorados cuidadosamente, os remédios são
seguros para a grande maioria das crianças”.
As diretrizes também enfatizam a necessidade de pediatras reconhecerem
que o TDAH é uma condição crônica, já que existem tratamentos
disponíveis para controlar os sintomas e não há cura para o transtorno.
Segundo Wolraich, uma das razões pelas quais a Associação Americana de
Pediatria ampliou a faixa etária para até 18 anos é porque surgiram mais
estudos mostrando que o TDAH continua a afetar o jovem no final da
adolescência – e até mesmo na idade adulta.
“O TDAH é uma condição crônica. Nós podemos fornecer tratamentos
sintomáticos, mas não curam a condição. O tratamento precisa ser um
processo contínuo. Os sintomas podem mudar ao longo do tempo e é preciso
considerar mudanças no tratamento enquanto a criança se desenvolve”,
disse Wolraich.
“Crianças costumam ser medicadas durante aproximadamente três anos. Para
algumas, é o suficiente. Dá tempo para se tornarem melhores na
compensação dos próprios déficits. Mas, para muitas crianças, a
necessidade de tratamento é contínua”, completa.
Gallagher recomenda que os pais apresentem qualquer preocupação
existente sobre os filhos ao pediatra. “Esta é uma condição que pode ser
reconhecida cedo na vida”, afirma.