Neste Blog, publicarei textos que apresentei em congressos, traduções que fiz para ajudar em estudos de casos e também artigos publicados em outros sites e blogs de interesse para a área da Fonoaudiologia, Neuropediatria e Saúde em geral.
Células-tronco: os pacientes que receberam o tratamento
apresentarem melhoras no equilíbrio, mobilidade e força das mãos
(Thinkstock)
O primeiro teste clínico de um tratamento com células-tronco para
vítimas de acidente vascular cerebral (AVC) apresentou resultados
positivos. Realizado pela Universidade de Glasgow, na Inglaterra, o
estudo será apresentado durante a Conferência Europeia sobre Derrame -
que começa hoje em Londres e prossegue até 31 de maio.
De acordo com Keith Muir, pesquisador que está liderando o estudo, os
nove pacientes que receberam o tratamento não tiveram efeitos adversos.
Além disso, cinco deles apresentaram uma melhora de leve a moderada nas
funções cognitiva e motora — equilíbrio, mobilidade e força nas mãos.
Com isso, houve aumento na capacidade desses pacientes de realizar
tarefas do dia-a-dia de forma independente.
Muir afirmou que os resultados ultrapassaram suas expectativas. Ele
ressalta, porém, que ainda é difícil saber o quanto dessa melhora se
deve exclusivamente ao tratamento, ou se pode ter havido algum tipo de
efeito placebo. Estudo — Os nove participantes do estudo tinham de 60 a
80 anos e haviam sofrido derrames de seis meses a cinco anos antes do
início do tratamento. Eles tiveram células-tronco neurais injetadas
diretamente na parte do cérebro que sofreu danos relacionados ao AVC.
A segunda fase dos testes clínicos, que tem por objetivo avaliar a
eficácia do tratamento, deve ter início no segundo semestre deste ano. A
ideia é que ela envolva inicialmente cerca de 20 pacientes que tenham
sofrido um AVC há poucas semanas. Para que o estudo em torno de um novo
tratamento seja concluído, é necessário que ele passe por três fases de
testes clínicos.
Está no ar há um mês a primeira TV inteiramente dedicada aos surdos do país: a TV Ines, do Instituto Nacional de Educação de Surdos, transmitida pela internet (www.tvines.com.br). São 12 horas de programação diária, das 8h às 20h, com conteúdo legendado e traduzido por um intérprete para a linguagem de sinais. “Temos quase 10 milhões de surdos no país que até então não tinham acesso à programação das TVs convencionais. Com o canal, queremos reparar a dificuldade das famílias ouvintes que possuem parentes com problemas auditivos. Agora, eles podem assistir juntos à nossa programação”, diz Solange Rocha, diretora do Ines e responsável pela TV. Segundo ela, a meta da TV Ines é ficar 24 horas no ar. A programação do canal também pode ser acessada em celulares e tablets.
Crianças com deficiência de iodo podem ter QI mais baixo
Uma pesquisa britânica sugere que a deficiência de iodo na gravidez pode afetar a inteligência de crianças em idade escolar.
O estudo, publicado na revista científica Lancet,
analisou mil famílias britânicas e observou QIs mais baixos e
dificuldades relacionadas à leitura entre crianças cujas mães ingeriram
poucos alimentos com iodo durante a gestação.
Os pesquisadores das Universidades
de Surrey e de Bristol analisaram os níveis de iodo em amostras de urina
de mulheres grávidas no sudoeste da Grã-Bretanha.
Os exames mostraram deficiência do nutriente em
dois terços das mães pesquisadas. Mais tarde, os pesquisadores
observaram que seus filhos tinham QI mais baixo aos oito anos e
problemas relacionados à leitura aos nove anos.
A pesquisadora Sarah Bath disse à BBC que o
estudo observou uma diferença de até três pontos para baixo nos QIs das
crianças com deficiência de iodo em comparação com as que acusaram
níveis normais.
Problema de saúde pública
Até recentemente acreditava-se que a deficiência
de iodo era um problema em países em desenvolvimento, apesar de estudos
anteriores terem registrado índices baixos de iodo também em mulheres
britânicas. No entanto, o impacto da falta de iodo no desempenho escolar
das crianças era até então desconhecido.
Segundo os pesquisadores, a deficiência de iodo
pode "impedir que crianças atinjam seu potencial pleno" e que a questão
deve ser tratada como "um problema sério de saúde pública".
O iodo é um nutriente essencial para o
desenvolvimento do cérebro, com papel importante na produção de
hormônios responsáveis pelo crescimento físico e neurológico.
Os pesquisadores aconselham mulheres em idade
reprodutiva a seguirem uma dieta baseada em peixes e laticínios. Em
contrapartida, eles não recomendam a ingestão de pílulas de algas
marinhas porque contêm doses demasiadamente altas de iodo.
As recomendações dos cientistas, publicadas no
site da British Dietetic Association, recomenda que mulheres grávidas e
lactantes ingiram ao menos 250 microgramas de iodo por dia, enquanto
outros adultos devem consumir 150 microgramas.
Com algumas gotas de sangue e um DVD player você já pode fazer um teste de HIV. Sim, você leu “DVD player” e acredite é aquele que adornava seu móvel da sala há alguns anos. Um grupo de Big Boys
Cientistas europeus criaram um método para transformar o aposentado
leitor, em um instrumento de laboratório a um preço acessível.
O Lab on a DVD (laboratório em DVD – em tradução livre), como é chamado este super gadget, é basicamente um reprodutor comum. Uma pequena alteração no software que o controla e um ajuste no leitor óptico, transforma esse simples DVD em uma ferramenta impressionante da ciência médica. Ele pode ser usado no diagnóstico de diversas doenças, mas a que chama mais atenção é o teste do HIV pela redução de custo e tempo. Atualmente o teste tradicional é feito por um equipamento que custa em torno de R$ 60 mil e leva dias para gerar o resultado. Com o DVD modificado, o custo cai para menos de R$ 400. Considere que neste valor estão inclusos todos os recursos necessários para modificar o aparelho, inclusive o do próprio equipamento. Além da economia de dinheiro, o tempo para o resultado de dias passa a ser de minutos.
Estudo pode ajudar quem tem dificuldade de aprendizagem ou doenças neurodegenerativas
A aplicação de estímulos
elétricos de alta frequência no cérebro poderia aumentar as habilidades
matemáticas de uma pessoa por até seis meses, segundo pesquisadores da
Universidade de Oxford.
Essas foram as conclusões de um estudo publicado na revista Current Biology que defende que tal efeito é conseguido por meio de uma técnica conhecida em inglês como "transcranial random noise stimulation", ou TRNS (algo como "estimulação transcraniana por ruído difuso").
Segundo seus coordenadores, tal
técnica poderia ajudar quem sofre de doenças neurodegenerativas, teve um
acidente vascular cerebral ou tem dificuldade de aprendizagem.
Estima-se que de 5% a 7% da população sofra de
um distúrbio de aprendizagem conhecido como discalculia, que dificulta a
realização de cálculos aritméticos. De acordo com os pesquisadores de
Oxford, os portadores de tal distúrbio estão entre os que poderiam se
beneficiar dessa nova técnica de estimulação cerebral.
A TRNS consiste na aplicação de estímulos
elétricos em áreas específicas do cérebro por meio de eletrodos
colocados sobre o couro cabeludo. De acordo com os coordenadores do
estudo, trata-se de um método relativamente novo, indolor e não
invasivo.
Testes
Para testar os efeitos da técnica, 51 estudantes
da Universidade de Oxford foram divididos em dois grupos e, por cinco
dias, submetidos a exames de aritmética que testaram sua habilidade de
fazer cálculos e memorizar números. Um dos grupos recebeu estimulação
por TRNS e o outro não.
Não houve diferenças significativa no desempenho
dos dois grupos logo no início do estudo, mas com a TRNS, o primeiro
grupo acabou melhorando sistematicamente sua performance ao longo dos
cinco dias.
Além disso, seis meses mais tarde, quando os
participantes do estudo foram avaliados novamente, o grupo que havia
sido submetido ao tratamento de TRNS continuou a ter "um desempenho
superior".
"(Nos indivíduos que receberam o estímulo), o
desempenho em ambas as tarefas de cálculo e de memorização melhorou ao
longo desses cinco dias - e as melhorias foram mantidas por até seis
meses após o experimento", disse Roi Cohen Kadosh, coordenador do estudo
e pesquisador do departamento de psicologia experimental da
Universidade de Oxford.
"Também fizemos imagens dos cérebros (dos
participantes do estudo) que sugerem que a TRNS aumenta a eficiência com
a qual algumas áreas cerebrais usam seus suprimentos de oxigênio e
nutrientes."
Em um estudo anterior, Kadosh e seus colegas
haviam mostrado que um outro tipo de estimulação cerebral poderia
melhorar a capacidade das pessoas memorizarem novos números.
Segundo o pesquisador, a diferença é que a TRNS
também melhora a capacidade dos que recebem o estímulo para somar,
subtrair ou multiplicar uma sequência de números.
Ressalva
Kadosh diz que é importante identificar
eventuais desvantagens desta e de outras formas de estimulação elétrica
transcraniana, garantindo, por exemplo, que estimular uma capacidade
cognitiva não cause danos em outras.
Para Michael Proulx, professor de psicologia na
Universidade de Bath, os resultados do estudo são de grande importância e
podem ter um impacto prático significativo.
"(Tal estudo) reforça a ideia de que a
estimulação do cérebro pode contribuir para o treinamento cognitivo. (A
TRNS) não se trata de uma panaceia que faz o cérebro funcionar melhor de
maneira geral, mas sim de uma técnica que ajuda a reforçar os esforços
de aprendizagem", diz Proulx.
Óvulo de doadora com núcleo de célula de pele (Foto: Divulgação/OHSU)
Depois de mais de 15 anos de fracassos de cientistas de todo o mundo,
além de um caso de fraude, cientistas finalmente criaram células-tronco
humanas com a mesma técnica que produziu a ovelha clonada Dolly, em
1996. A equipe liderada por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de
Ciência e Saúde do Oregon, nos EUA, publicou artigo a respeito na
revista "Cell", nesta quarta-feira (15)
Como informa a agência Reuters, para chegar ao resultado, os
pesquisadores transplantaram material genético de células adultas em
óvulos cujo DNA havia sido removido. Eles cultivaram células de seis
embriões criados, em dois casos, a partir de DNA de amostras das peles
de uma criança com uma doença genética, e, nos outros quatro casos, de
fetos saudáveis.
Em cada um dos casos, o DNA foi inserido em óvulos não fertilizados
doados e, após a aplicação de uma sequência de técnicas, foi verificada a
replicação das células.
O procedimento, segundo a "Cell", abre uma nova frente para a medicina
com células-tronco, que tem sido prejudicada por desafios técnicos, bem
como questões éticas.
Até agora, as fontes mais naturais de células-tronco humanas eram
embriões humanos, cuja utilização em pesquisa cria dilemas éticos. Para
determinados setores, um óvulo fecundado deve ser tratado como um ser
humano e, por isso, não pode ser descartado. A técnica divulgada nesta
quarta-feira usa óvulos humanos não fertilizados, e, assim, não se
enquadraria nessa discussão.
Eliminar a necessidade de embriões humanos pode aumentar as tentativas
de utilização de células-tronco e suas descendentes para substituir
células danificadas ou destruídas por problemas cardíacos, mal de
Parkinson, esclerose múltipla, lesões na medula e outras doenças
devastadoras. Clonagem
A técnica, no entanto, também poderia ressuscitar os temores da
clonagem reprodutiva, ou produzir cópias genéticas de indivíduos vivos
(ou mortos). Mesmo antes de o estudo ser publicado, um grupo britânico
chamado Human Genetics Alert protestou contra a pesquisa.
"Os cientistas, finalmente, entregaram o bebê que pretensos clonadores
humanos têm estado à espera: um método confiável para criar embriões
humanos clonados", disse o dr. David King, diretor do grupo. "Isso torna
imperativo que nós criemos uma proibição legal internacional sobre a
clonagem humana, antes que mais pesquisas como essa apareçam. É
irresponsável ao extremo a publicação desta pesquisa."
Entre os cientistas, no entanto, o fato de a técnica ter funcionado
está sendo saudado como um avanço, como afirmou o biólogo especializado
em células-tronco George Daley, do Harvard Stem Cell Institute. "Isso
representa uma conquista inigualável. Eles tiveram sucesso onde muitas
outras equipes fracassaram, inclusive a minha."
Montagem mostra diferentes estágios do processo
descrito pelos cientistas na 'Cell'
(Foto: Divulgação/OHSU)
Fraude
Entre os que fracassaram na utilização da técnica está o biólogo Hwang
Woo-suk, da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul.
Em 2005, Hwang e sua equipe foram manchete em todo o mundo quando
anunciaram, na revista "Science", que haviam criado células-tronco
embrionárias humanas por meio de transferência nuclear, a mesma técnica
que os cientistas de Oregon usaram. A alegação de Hwang acabou sendo
desmentida, tornando-se um dos casos mais famosos de fraude científica
na última década.
Se o feito da equipe de Oregon se mantiver e puder ser replicado por
cientistas em outros laboratórios, o método oferecerá uma terceira, e
potencialmente superior, forma de se produzir células-tronco
embrionárias.
A pesquisa com células-tronco decolou em 1998, quando cientistas
liderados por Jamie Thomson, da norte-americana University of Wisconsin,
anunciaram que conseguiram cultivar células a partir de embriões
humanos de alguns dias obtidos em clínicas de fertilização, chamadas de
blastocistos.
Como os blastocistos eram destruídos quando as células-tronco eram
removidas, grupos que acreditam que a vida começa na concepção
promoveram intensos protestos. Em 2001, o presidente norte-americano
George W. Bush proibiu financiamento público federal nos EUA para
pesquisa que criaria mais blastocistos.
Jacob falava pouco, mas estava constantemente pensando em padrões matemáticos (Foto: BBC)
Aos dois anos de idade, o jovem americano Jacob Barnett foi
diagnosticado com autismo, e o prognóstico era ruim: especialistas
diziam a sua mãe que ele provavelmente não conseguiria aprender a ler ou
sequer a amarrar seus sapatos.
Mas Jacob acabou indo muito além. Aos 14 anos, o adolescente estuda
para obter seu mestrado em física quântica, e seus trabalhos em
astrofísica foram vistos por um acadêmico da Universidade de Princeton
como potenciais ganhadores de futuros prêmios Nobel.
O caminho trilhado, no entanto, nem sempre foi fácil. Kristine Barnett,
mãe de Jacob, diz à BBC que, quando criança, ele quase não falava e ela
tinha muitas dúvidas sobre a melhor forma de educá-lo.
"(Após ser diagnosticado), Jacob foi colocado em um programa especial
(de aprendizagem). Com quase 4 anos de idade, ele fazia horas de terapia
para tentar desenvolver suas habilidades e voltar a falar", relembra.
"Mas percebi que, fora da terapia, ele fazia coisas extraordinárias.
Criava mapas no chão da sala, com cotonetes, de lugares em que havíamos
estado. Recitava o alfabeto de trás para frente e falava quatro
línguas".
Jacob diz ter poucas memórias dessa época, mas acha que o que estava
representando com tudo isso eram padrões matemáticos. 'Para mim, eram
pequenos padrões interessantes.' Estrelas
Certa vez, Kristine levou Jacob para um passeio no campo, e os dois
deitaram no capô do carro para observar as estrelas. Foi um momento
impactante para ele.
Meses depois, em uma visita a um planetário local, um professor
perguntou à plateia coisas relacionadas a tamanhos de planetas e às luas
que gravitavam ao redor. Para a surpresa de Kristine, o pequeno Jacob,
com 4 anos incompletos, levantou a mão para responder. Foi quando teve
certeza de que seu filho tinha uma inteligência fora do comum.
Alguns especialistas dizem, hoje, que o QI do jovem é superior ao de Albert Einstein.
Jacob começou a desenvolver teorias sobre astrofísica aos 9 anos. No
livro The Spark (A Faísca, em tradução livre), que narra a história de
Jacob, ela conta que buscou aconselhamento de um famoso astrofísico do
Instituto de Estudos Avançados de Princeton, que disse a ela que as
teorias do filho eram não apenas originais como também poderiam
colocá-lo na fila por um prêmio Nobel.
Dois anos depois, quando Jacob estava com 11 anos, ele entrou na universidade, onde faz pesquisas avançadas em física quântica.
Questionada pela BBC que conselhos daria a pais de crianças autistas -
considerando que nem todas serão especialistas em física quântica -,
Kristine diz acreditar que "toda criança tem algum dom especial, a
despeito de suas diferenças".
"No caso de Jacob, precisamos encontrar isso e nos sintonizar nisso. (O
que sugiro) é cercar as crianças de coisas que elas gostem, seja isso
artes ou música, por exemplo".
Smith criou polêmica com objetivo de angariar fundos para pesquisas sobre doença do filho
"Eu preferiria que meu filho
tivesse câncer". Com essa frase provocativa, o britânico Alex Smith
criou um anúncio publicitário publicado em dois conhecidos jornais
britânicos.
Seu objetivo era despertar a opinião pública
para seu filho Harrison, de seis anos, portador da Distrofia de
Duchenne, uma doença genética incurável que causa a degeneração
progressiva dos músculos. Segundo Smith, a expectativa de vida de seu
filho é de apenas 25 anos.
"Não há chances (de recuperação) ou
medicamentos para ajudar, apenas a certeza de uma vida muito curta,
marcada por uma doença debilitante que o deixará incapaz de se mover até
que seu coração ou pulmões desistam de sua batalha", diz Alex, no site
www.harrisonsfund.com.
O anúncio causou polêmica: a frase original, em
inglês - I wish my son had cancer -, pode ser lida simplesmente como
"gostaria que" ou "quem me dera meu filho tivesse câncer".
"Como eu poderia desejar que meu filho tivesse
uma doença tão terrível? Mas a verdade é que o diagnóstico de câncer,
ainda que duro, é preferível ao diagnóstico do meu filho", declarou
Smith à BBC.
"A maioria dos cânceres infantis são curáveis
atualmente. Harrison não tem essa chance. E eu faria qualquer coisa para
que meu filho vivesse mais do que eu."
Pesquisas
Com o anúncio, Smith pede doações para a causa.
"Minha única esperança é levantar o máximo de dinheiro possível para
pesquisas científicas" que curem ou ao menos amenizem a doença, diz a
peça publicitária.
Mas, ciente de que a cura pode não chegar a
tempo para salvar Harrison, Smith disse que deseja também "iniciar a
conversa sobre a doença", da qual ouviu falar pela primeira vez em 2011,
quando seu filho foi diagnosticado.
"É muito difícil conseguir financiamento (para
pesquisas a respeito da doença). Não há histórias bonitas de
sobrevivência. Então precisei aumentar o volume (para ser ouvido)",
afirmou à BBC. "Harrison tem uma rara mutação (do mal de Duchenne),
então a expectativa de cura é pequena. Mas esperamos poder ajudar outras
pessoas como ele."
A Distrofia de Duchenne afeta, segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde), um a cada 3,5 mil crianças do sexo
masculino. É um mal genético ligado ao cromossomo X, em que a ausência
de uma proteína provoca a degeneração progressiva dos músculos.
Em muitos casos, as crianças perdem a capacidade de andar aos 12 anos de idade.
Smith - que é casado e tem outro filho, de
quatro anos - conta que Harrison é hoje um menino extrovertido que gosta
de correr, mas que está perdendo cada vez mais a habilidade de fazê-lo.
"Ele luta para conseguir se levantar do chão e não corre mais com
facilidade. É frustrante para ele e de cortar o coração para nós."
O pai ainda não contou ao filho a baixa
expectativa de vida associada à doença. "Não é algo que uma criança de
seis anos precise saber. Mas vai chegar um momento em que ele vai
'googlar' a respeito e teremos que ter essa conversa."
Memória reativada: microchip seria capaz de devolver ao
cérebro a capacidade de registrar memórias de longo prazo, simulando os
impulsos nervosos emitidos por neurônios saudáveis em regiões afetadas
por algumas doenças cerebrais
(Thinkstock)
Um grupo de neurocientistas de diversas universidades americanas estima
que, em até dez anos, será possível reverter problemas de memória com o
implante de um microchip no cérebro. Até agora, a estratégia já foi
testada com ratos e macacos, e seus resultados levaram a revista do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts, a MIT Technology Review, a incluir a pesquisa entre os dez principais avanços tecnológicos de 2013.
Os autores analisaram o processo a partir do qual as memórias de longo
prazo (aquelas das quais nos lembramos por dias ou anos) são criadas e
armazenadas no cérebro, a fim de simulá-lo nos casos em que o cérebro
sofreu algum dano. Eles têm como foco o hipocampo, região do cérebro na
qual a memória de curto prazo, aquela que dura alguns segundos ou
minutos, é transformada em memória de longo prazo.
Ted Berger, professor de engenharia biomédica da Universidade do Sul da
Califórnia e integrante da equipe de pesquisadores, analisou como os
sinais elétricos se propagam através dos neurônios dessa região e
utilizou seu conhecimento na área da matemática para criar um modelo que
imita essa movimentação.
De acordo com Berger, o processo não consiste em colocar as memórias de
uma pessoa em seu cérebro, mas sim devolver a ele a capacidade de gerar
memórias, estimulando uma área danificada a replicar a função das
células sadias. Ainda não foram realizados testes com seres humanos, mas
experimentos com animais mostraram que os eletrodos podem processar a
informação da mesma forma que um neurônio. Experimentos – Em testes com ratos, os pesquisadores
treinaram os animais para puxar uma de duas alavancas para receber uma
recompensa e gravaram as séries de pulsos elétricos no hipocampo quando
faziam a escolha correta. Eles observaram como esses sinais se
transformavam à medida que a lição aprendida se transformava em uma
memória de longo prazo e então extraíram um código que representasse
essa lembrança. Em um segundo momento, os cientistas deram aos ratos
drogas que prejudicavam sua memória, fazendo com que eles esquecessem
qual era a alavanca que oferecia a recompensa. Então, utilizaram o
microchip para reproduzir os pulsos elétricos gravados no cérebro dos
animais. Resultado: os ratos relembraram qual era a alavanca correta.
No ano passado, foram realizados experimentos similares com macacos,
envolvendo o córtex pré-frontal, parte do cérebro que recupera as
memórias criadas pelo hipocampo. Os pesquisadores posicionaram os
eletrodos no cérebro dos animais para decodificar os sinais
correspondentes à lembrança de uma imagem. Na etapa seguinte do
experimento, deram cocaína aos macacos, droga que atua negativamente
sobre córtex pré-frontal, comprometendo a memória dos animais. Depois,
utilizando os eletrodos para enviar o código correto ao cérebro dos
macacos, os pesquisadores melhoraram significativamente seu desempenho
em uma tarefa de identificação das imagens.
Um dos principais objetivos no campo do estudo da memória é o
tratamento do Alzheimer. Porém, diferentemente dos derrames e outras
doenças cerebrais, o Alzheimer tende a afetar diversas partes do
cérebro, especialmente quando já se encontra em estágio avançado. Por
essa razão, os pesquisadores acreditam que essa técnica de implantes
cerebrais não será uma opção viável para o tratamento da doença, pelo
menos a curto prazo.
A voz rouca ainda é resquício
dos sintomas de Parkinson, mas quase nem incomoda o paciente Antônio Sidney
Gomes, 66 anos. Isso porque, há quatro anos, cessaram os tremores intensos que
o impediam até de sair de casa.
“Minha saúde ficou nota 10”, diz, baixinho, sobre o implante de um marcapasso
no cérebro , tecnologia que desponta como caminho para tratar uma série de
doenças neurológicas.
Já há duas décadas, o dispositivo cerebral usado em seu
Antônio coleciona resultados positivos em quem tem Parkinson. Agora, os
pesquisadores querem saber se a técnica traria benefícios para os doentes de
Alzheimer , dores crônicas, depressão e obesidade. Os testes já estão em
andamento em universidades do mundo todo, especialmente do Canadá e Estados
Unidos.
O que faz os eletrodos de estimulação cerebral profunda uma possibilidade de
caminho para doenças tão diferentes é o mecanismo de ação, explica o diretor da
Comissão de Educação da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Henrique
Ballalai Ferraz.
De acordo com ele, o cérebro funciona em partes e a comunicação entre elas é
feita por circuitos de neurônios. Em comum, portadores de Parkinson,
depressivos, obesos mórbidos, por exemplo, têm um desequilíbrio na ‘conversa’
entre as regiões cerebrais.
“Em geral, as doenças fazem com que uma dessas áreas do cérebro fique mais
sensível do que a outra. O desequilíbrio pode resultar em sintomas variados”,
diz o especialista ao descrever como sequelas do “curto-circuito” os movimentos
involuntários, o esquecimento, a compulsão por comida ou a tristeza profunda.
A linha de investigação dos cientistas é que a estimulação constante, via
marcapasso, inibiria o funcionamento exagerado de uma das áreas do cérebro
alterada pelas doenças.
“Para o Parkinson, que consiste em uma produção irregular de dopamina,
funciona”, diz o neurocirurgião brasileiro Claudio Côrrea que já realizou cerca
de 400 cirurgias do tipo, uma delas em seu Antônio.
Indicação precoce
“O procedimento é indicado para pacientes que não reagem
mais a medicação”, afirma Côrrea.
“Os resultados para Parkinson são muito contundentes e
o índice de complicação é inferior a 1%” garante
“Mas as chances de melhora são maiores para os casos
tratados de forma precoce. Infelizmente, ainda temos uma demora na
indicação da cirurgia pelos médicos que atendem pacientes, o que limita
nossa atuação”, lamenta.De olhos abertos
Para o paciente Antônio, os remédios mostraram-se
ineficientes no controle dos tremores em menos de um ano após o
diagnóstico da doença.
“Tremer era um problema horrível. Não só você sofre, mas
quem está ao seu redor também”, lembra citando a angústia da companheira
Luísa.
“Ele, que era a pessoa mais social do mundo, só queria viver recluso”, lembra a mulher.
Por isso, o caminho cirúrgico foi aceito prontamente pelo
casal, mesmo após saberem que o marcapasso seria implantado por meio de
anestesia local e com Antônio acordado.
“Assisti a tudo, de olhos bem abertos, e foi impressionante”, conta.
A necessidade de manter o paciente acordado se dá porque
os movimentos involuntários em quem tem Parkinson não acontecem enquanto
o doente está dormindo. Além disso, por meio de uma rede
computadorizada, os cirurgiões precisam avaliar se as placas de titânio
estão sendo implantadas exatamente no local danificado pela doença.
“Quando o perímetro cerebral lesionado é descoberto e
acionado, a melhora é imediata . Precisamos deste aval no momento
cirúrgico”, diz Cláudio Côrrea.
Antônio sentiu as mãos firmes segundos depois do cérebro ser operado.
“Três dias depois eu já estava em casa. Voltei a escrever
e viver com independência”, conta ele, com caderno nas mãos, exibindo
com orgulho a caligrafia perfeita. Sintomas e não causas
Apesar dos resultados positivos, o especialista da
Academia Brasileira de Neurologia ressalta que a indicação cirúrgica é
paliativa.
“O marcapasso cerebral age no sintoma da doença e não na
causa. Por isso, só é uma opção para quem não reage as alternativas mais
conservadoras”, alerta Henrique Ballalai Ferraz.
O Parkinson permanece uma doença sem cura e que afeta 200 mil brasileiros, segundo a Universidade Federal de São Paulo.
A cirurgia é uma opção da medicina para uma parcela
destes portadores mas ainda é só uma perspectiva de conduta terapêutica
para os 21% de brasileiros que sofrem de depressão e os 16% que estão em
fase avançada da obesidade, conforme mostram os últimos dados do
Ministério da Saúde.
“As pesquisas com marcapasso cerebral para outras doenças
neuropsíquicas ainda estão em andamento e os resultados não estão
mensurados”, afirma o médico da ABN.
A experiência com os pacientes com Parkinson já mostrou
que, a cada quatro ou cinco anos, é preciso voltar para mesa de cirurgia
e trocar a pilha do marcapasso. Antônio acaba de recarregar o
dispositivo que leva no cérebro.
“Neste intervalo, tive uma obstrução na veia cardíaca e
coloquei um marcapasso no coração. Agora são dois dispositivos que me
ajudam a viver plenamente bem. Um para a cabeça e o outro para os
batimentos cardíacos, em perfeita sintonia.”
Autismo: pesquisadores acreditam que algo ocorre de errado
durante o desenvolvimento do bebê, possivelmente com a função da
placenta
(Thinkstock)
Crianças que apresentam pesos extremos ao nascer – ou seja, muito maior
ou muito menor do que a média — têm um risco maior de apresentar sinais
de autismo ao longo da infância, indicou um novo estudo britânico. A
nova pesquisa, que analisou dados de mais de 40.000 crianças, ainda
concluiu que essa relação ocorre independentemente de o bebê nascer
prematuramente ou depois do período normal de gestação. Os resultados do
trabalho foram publicados na nova edição do periódico The American Journal of Psychiatry.
Onde foi divulgada:periódico The American Journal of Psychiatry
Quem fez: Kathryn Abel e equipe
Instituição: Universidade de Manchester, Grã-Bretanha
Dados de amostragem: Aproximadamente 40.000 crianças de Estocolmo
Resultado: Crianças
com alto peso ao nascer (mais de 4,5 quilos) podem chegar a ter um
risco 63% maior de autismo do que bebês que nascem com peso normal. Essa
chance pode ser 60% mais elevada entre crianças que nasceram com peso
abaixo da média, ou seja, menor do que 2,5 quilos.
Outras pesquisas já haviam apontado para a relação entre baixo peso ao
nascer e um maior risco de autismo. Porém, segundo os autores desse
estudo, essa é a primeira vez em que um peso maior do que a média é
associado ao distúrbio. De acordo com o trabalho, feito na Universidade
de Manchester, na Grã-Bretanha, bebês que nascem com mais de 4,5
quilos, em comparação com o restante das crianças, têm um risco 63%
maior de apresentar autismo. Essa chance é 60% mais elevada entre bebês
que nascem com menos de 2,5 quilos.
"Nós acreditamos que esse aumento do risco de autismo associado ao
crescimento anormal e extremo do feto mostra que algo ocorre de errado
durante o seu desenvolvimento, possivelmente com a função da placenta",
diz Kathryn Abel, coordenadora do estudo. "Qualquer coisa que provoque
anomalias do desenvolvimento e do crescimento é provável que também
afete o desenvolvimento do cérebro do bebê."
A pesquisa, embora tenha encontrado uma relação entre baixo ou alto
peso ao nascer e uma maior prevalência de autismo, não estabeleceu uma
relação de causa e efeito entre os dois fatores. Por isso, Abel acredita
que mais estudos são necessários para ajudar a compreender de que forma
o desenvolvimento fetal interfere nas funções cerebrais do bebê.
Especialistas estimam que a epilepsia afete entre 1% e 1,5% da população mundial
(Thinkstock)
Cientistas desenvolveram um aparelho que, implantado no cérebro, é
capaz de prever a ocorrência de crises de epilepsia. O dispositivo atua
em conjunto com um implante no tórax, que envia informações a um pequeno
aparelho que emite sinais luminosos de cores diferentes para indicar as
chances de que uma crise ocorrer nas próximas horas.
"Saber quando uma crise vai acontecer pode melhorar drasticamente a
qualidade de vida e independência de pessoas com epilepsia", afirma Mark
Cook, principal autor do estudo, publicado no periódico Lancet Neurology.
O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade de Melbourne, na
Austrália, em parceria com a empresa americana NeuroVista, que
desenvolveu o aparelho de detecção. Implantado entre o crânio e a
superfície do cérebro, ele monitora os sinais elétricos do cérebro. Sinais luminosos – Os pesquisadores também
desenvolveram um segundo dispositivo, que é implantado no tórax e
transmite os sinais elétricos gravados no cérebro para um pequeno
aparelho que emite avisos luminosos de diferentes cores. As cores
indicam ao paciente a chance de ele ter uma crise nas próximas horas:
para uma chance elevada, as luzes que se acendem são vermelhas. A cor
branca indica uma chance moderada e azul representa uma baixa
possibilidade.
O estudo teve duração de dois anos e incluiu 15 pessoas com epilepsia,
entre 20 e 62 anos de idade, que tinham entre duas e 12 crises por mês e
não haviam conseguido controlar as crises com os tratamentos
existentes.
Durante o primeiro mês, o dispositivo estava programado apenas para
gravar os dados de eletroencefalograma, o que permitiu aos pesquisadores
elaborar um algoritmo capaz de prever as crises para cada paciente. Acertos – O aparelho previu corretamente as crises com
um alerta de "chances elevadas" em 65% dos casos, e funcionou em mais
da metade dos casos em 11 dos 15 participantes. Dentre esses 11
voluntários, oito tiveram as crises previstas corretamente entre 56% e
100% do tempo.
A epilepsia afeta, em média, de 1% a 1,5% da população mundial. "As
pessoas que têm epilepsia ficam muito bem na maior parte do tempo. Mas
suas atividades são limitadas por essa condição, que pode afetar apenas
alguns minutos de cada ano de suas vidas, e ainda assim ter
consequências catastróficas, como quedas e até afogamentos", diz Cook.
De acordo com o pesquisador, o próximo passo da pesquisa será replicar
esses resultados e um estudo clínico mais amplo. Para ele, essa
estratégia pode levar a uma melhora das estratégias para controle da
epilepsia no futuro.
Opinião da especialista
Elza Márcia Yacubian
Neurologista, professora da Unifesp e membro da Academia Brasileira de Neurologia
"Embora as crises epilépticas possam ocorrer sem aviso algum na
maioria dos pacientes, é possível que ocorram mudanças específicas na
dinâmica do cérebro antes de uma crise. Assim, por exemplo, algumas mães
podem perceber em seus filhos com epilepsia sintomas sutis como
alterações comportamentais ou mudanças na expressão facial horas ou dias
antes da ocorrência das crises. É possível que esses sintomas se
reflitam em alterações elétricas no cérebro, responsáveis pela geração
das crises antes do aparecimento das mesmas. Se essas mudanças pudessem
ser detectadas de forma segura, ou um estado de maior probabilidade de
crises pudesse ser definido, seria possível evitar o tratamento crônico
com fármacos antiepilépticos, algumas vezes feito por toda a vida.
Assim, o medicamento antiepiléptico poderia ser utilizado apenas quando o
risco ou a probabilidade de ter crises fosse iminente.
Até recentemente, todos os estudos sobre a previsão de crises foram
baseados em avaliações retrospectivas de registros
eletroencefalográficos obtidos com eletrodos implantados diretamente
sobre o cérebro. Poucos estudos têm tentado avaliar os chamados
'algoritmos de previsão'. Neste sentido, os resultados apresentados
pelos autores são um marco importante, mostrando pela primeira vez que a
previsão das crises é possível.
No entanto, é preciso cautela. Embora os autores tenham demonstrado
que o algoritmo de predição funcionou acima do nível do acaso, ainda não
esclareceu que se este desempenho também é suficiente para a aplicação
clínica. A utilidade deste método obviamente dependerá da forma como
diferentes pacientes tolerarão alarmes falsos ou crises perdidas, e sua
eficácia deverá ser interpretada de forma individual. Os resultados
apresentados sugerem que pelo menos alguns dos pacientes poderiam ser
beneficiados pelo sistema de alerta da iminência de crises."
Pesquisadores mostram que, em crianças agressivas e
violentas, as áreas cerebrais responsáveis pela empatia são menos
ativadas pelo sofrimento alheio.
(Thinkstock)
As origens do comportamento cruel apresentado por criminosos e
psicopatas pode estar no cérebro. Um estudo publicado nesta quinta-feira
no periódico Current Biology monitorou a atividade cerebral de
crianças inglesas que apresentavam problemas de conduta. A pesquisa
deixou claro que o cérebro dessas crianças, quando são confrontadas com
imagens de pessoas sofrendo, reage de maneira diferente da maioria das
outras: as áreas associadas à empatia se mostram menos ativas em reação à
dor alheia. Diante dos resultados, os cientistas sugerem que a análise
da atividade cerebral de crianças ao testemunhar cenas de sofrimento
pode ajudar a apontar fatores de risco para o comportamento antissocial e
a psicopatia na fase adulta.
Jovens com transtorno de conduta apresentam uma série de comportamentos
que violam os direitos alheios, como agressão física, crueldade, roubo e
falta de empatia em relação às outras pessoas. As crianças com esse
tipo de comportamento têm maiores chances de se tornar adultos violentos
e ter comportamentos antissociais. Na Inglaterra, onde o estudo foi
conduzido, cerca de 5% das crianças parecem ter esse tipo de problema.
No novo estudo, os pesquisadores usaram imagens de ressonância
magnética para descobrir se o cérebro dessas crianças com desvio de
conduta reagia de modo diferente a fotografias de outras pessoas
sofrendo. Como resultado descobriram que, em relação às outras crianças,
áreas como a ínsula anterior, o córtex cingulado anterior e o giro
frontal inferior — todas associadas à empatia — ficaram menos ativas.
Segundo os pesquisadores, isso não quer dizer necessariamente que toda
criança com problemas de conduta tem a mesma reação ao sofrimento, e nem
que qualquer em que demonstre esse tipo de padrão cerebral vá se tornar
um adulto problemático — na verdade, a maior parte deixa esse tipo de
comportamento para trás durante seu desenvolvimento.
"Nossa descoberta indica que crianças com problemas de conduta têm uma
resposta cerebral atípica ao ver outras pessoas sofrendo. O importante é
ver essas descobertas como um indicador de vulnerabilidade, em vez de
um destino biológico. Nós sabemos que crianças são bastante suscetíveis a
intervenções, e o desafio é fazer essas intervenções ainda melhores",
diz Essi Viding, pesquisadora da University College London responsável
pelo estudo. Vulnerabilidade – Os pesquisadores também analisaram
as diferenças de comportamento dentro do grupo das crianças com
problemas de conduta, separando os indivíduos mais insensíveis e que
demonstravam menos emoções. Essa indiferença emocional é uma importante
característica dos psicopatas, e sua presença na infância pode ser vista
como fator de risco para o desenvolvimento da condição na vida adulta.
Os cientistas descobriram que, em relação à dor alheia, o grupo
apresentou uma atividade ainda menor na ínsula anterior e no córtex
cingulado anterior. "Nossa pesquisa mostra muito claramente o fato de
que nem todas as crianças com problemas de conduta têm a mesma
vulnerabilidade neurobiológica — algumas podem ser mais vulneráveis à
psicopatia, enquanto outras não. Isso traz a possibilidade de adaptarmos
as intervenções existentes para se adequar aos perfis específicos que
caracterizam as crianças com problemas de conduta", disse Essi Viding.
De acordo com os
pesquisadores, marcador pode ajudar na criação de exames de rotina a
baixo custo. Nos primeiros testes, o índice de acerto foi de 80%
Imagem do cérebro de uma pessoa sadia (a esq.) e um cérebro de alguém que sofre de Alzheimer (dir.)
(Reuters)
Um novo método não invasivo e de baixo custo se mostrou eficiente na
detecção precoce da doença de Alzheimer. Publicado nesta terça-feira no
periódico Molecular Psychiatry, o estudo conseguiu identificar
um marcador biológico presente no sangue que é detectado antes dos
primeiros sintomas da doença. Com a detecção precoce, dizem os
pesquisadores, será possível desenvolver terapias que ajudem a retardar o
início do Alzheimer.
Para tentar encontrar uma alternativa mais viável, a equipe da
pesquisadora Samantha Burnham mediu os níveis de biomarcadores
(substâncias que indicam a presença da doença) no sangue de pacientes
com alta concentração de beta amiloide neocortical (NAB), em comparação
àqueles com baixa concentração dessa mesma substância. É conhecida a
relação entre NAB e a doença de Alzheimer, mas aferição deste indicador é
cara e invasiva, uma vez que exige biópsia do cérebro.
Os dados coletados foram usados para gerar um modelo de predição do
NAB, que mostrou um índice de acerto de 80%. De acordo com os
pesquisadores, o resultado pode ajudar no desenvolvimento de testes de
rotina a um custo baixo, que seriam usados como uma ferramenta para
detecção precoce de pessoas em risco de desenvolver o Alzheimer. Com um
resultado positivo desse primeiro teste, haveria, então, justificativas
para a realização de testes mais invasivos e caros, além de permitir
intervenções precoces de terapias específicas para a doença.
Opinião do especialista
Ivan Okamoto
Neurologista, coordenador do Instituto da Memória da Universidade Federal de São Paulo
“Encontrar esses marcadores
biológicos que denunciam a doença até 15 anos antes dos sintomas é algo
como a busca do Santo Graal. Mas esse não é o primeiro estudo nesse
sentido. Muito tem se feito no sentido de conseguir identificar
precocemente a evolução do Alzheimer. Há pesquisas, por exemplo, que
tentam identificar quais são as substâncias que atrasam a morte
neuronal. O estudo é promissor, mas será preciso que ele seja replicado
algumas vezes, em populações grandes, para que sua eficácia seja
realmente comprovada.”
Eles são geneticamente selecionados
para nascerem sadios e serem doadores de medula e tecidos aos irmãos.
Brasil já tem 20 casos em andamento
Maria Clara acaba de completar um ano e dois meses de
idade. A curta vida da menina simboliza o início de uma geração de bebês
brasileiros que nascem com o propósito de curar.
Elaborados sob medida em laboratórios, eles são
concebidos via fertilização assistida com seleção prévia de embriões.
Seus tecidos (sangue do cordão umbilical ou parte da medula óssea) são
usados, tempos depois do nascimento, em transplantes
para tratar ou curar irmãos mais velhos portadores de doenças genéticas.
Além da garantia de que as crianças nasçam saudáveis e
não herdem os genes vindos do pai e da mãe associados à doença familiar –
como aconteceu com os outros filhos gerados naturalmente – o processo
seleciona gametas para que o bebê seja um doador de tecidos 100%
compatível com o irmão. Sem a técnica, chamada de diagnóstico
pré-implantacional, as chances naturais de estar apto à doação seriam de
25%.
Maria Clara , nascida e programada no Brasil, foi a
primeira da América Latina e já mudou o curso da doença sanguínea da
irmã mais velha, a Maria Vitória, com 6 anos. Atualmente, são ao menos
20 casais brasileiros que estão passando por este processo com o intuito
de gerar um filho para salvar o outro.
Adelino Amaral, consultor do Conselho Federal de Medicina
(CFM) e presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida,
enxerga nestes casos um novo marco das técnicas de reprodução humana.
“Ninguém quer um filho doente. O diagnóstico prévio evita
200 doenças genéticas no bebê. Atrelar esta prevenção à viabilidade de
transplante de um irmão é extremamente positivo”, considera o médico. O início
O país pioneiro na aplicação deste tipo de fertilização
foi a Inglaterra, em 2001. Poucos casos surgiram depois. Alguns acabaram
na Justiça por conta das questões éticas que cercam o assunto.
Por parte dos médicos e geneticistas, só é preciso
cautela para que estes bebês não sejam planejados com o único propósito
de servir como “medicamentos” para os familiares.
“Na Inglaterra, pioneira no processo, antes era
necessário que cada procedimento fosse aprovado por um órgão
regulamentador da fertilização. Agora, esta aprovação prévia foi
abolida.”
“A questão que envolve este assunto, na minha avaliação,
é: um bebê programado exclusivamente para servir como meio não é
desejável”, acrescenta a presidente.
“Mas é importante ressaltar que, nos casos em que os
bebês são pensados como possibilidade para doar tecidos aos irmãos, os
pais sempre dizem que já desejavam ter outros filhos quando são
entrevistados. Além disso, há o ganho para o bebê, que não nascerá com
genes associados à doença.” “Bebês do amor”
Para a mãe de Maria Clara, Jênyce Cunha, a alegria da
segunda filha configurou não só o sonho de ampliar a família – algo
planejado desde sempre – como o fim das sessões constantes de transfusão
de sangue a que a mais velha, Maria Vitória, era submetida enquanto
filha única.
O nascimento da caçula possibilitou o transplante de
medula óssea à Maria Vitória no último dia 27 de março e o fim da
talessemia, doença que altera a produção de glóbulos vermelhos do sangue
e resulta em anemias severas.
“Ter um filho é uma dádiva de Deus, não basta só querer,
tem que desejar”, diz Jênyce, que já pensa em um terceiro filho para a
família.
“Quando, além da vontade divina, a medicina possibilita
que este bebê possa, por meio de procedimento tranquilo e nada
traumatizante, fazer com que a irmã se livre de uma doença que ela iria
enfrentar pelo resto da vida, isso é algo mágico”, diz ela, que refuta o
termo “bebê medicamento” e prefere chamá-los de “bebês do amor”.
Maria Clara ficou internada apenas algumas horas para
doar um pedacinho da medula, retirado após anestesia e via sucção por
seringa. No dia seguinte, recebeu alta hospitalar. A irmã receptora,
Maria Vitória, ficou hospitalizada mais tempo pois teve de fazer
quimioterapia para eliminar a medula antiga e se adaptar à nova doada
pela caçula.
“Elas estão ótimas”, diz Jênyce. “Ter duas Marias sempre foi um desejo, acho irmão a coisa mais deliciosa do mundo”.
Vitória parece concordar. Ela para o que estiver fazendo
para brincar com Clara, com abraços “esmagadores de bochechas” e beijos
em sequência. Propósitos
O geneticista Ciro Martinhago, responsável pela concepção
da segunda Maria da família Cunha, diz que a experiência bem-sucedida
com a garota abriu caminhos.
“O caso das Marias foi o primeiro e eu agora tenho 20
outros pacientes com casos semelhantes que já estão com o processo de
reprodução de embriões selecionados em curso”, afirma o especialista,
que trabalha em um dos dois únicos centros do Brasil a realizar o
procedimento.
“Em geral, são casais que já têm filhos com talessimia e
anemia falciforme (outra doença do sangue que pode ser letal), mas o
procedimento também é um caminho que desponta para tratar leucemias”,
diz.
Segundo Martinhago, de fato, é preciso atenção aos propósitos dos pais que recorrerem à seleção de embriões programados.
“Para mim, a sentença mágica é quando o casal diz que
teria um segundo ou terceiro filho independentemente da compatibilidade
de doação ao irmão.”
“Mas se é para falar em gravidez por motivos
questionáveis ou no peso disso para criança, eu cito o exemplo das
muitas mulheres que chegaram até a minha clínica querendo engravidar só
por vaidade, porque todas as amigas já eram mães”, diz ele. Regulação
Por ora, não há nenhuma legislação nacional que
regulamente a seleção prévia dos embriões e nem o que fazer com os
materiais genéticos gerados que não são usados por não serem compatíveis
ao transplante ou portadores do gene associado à doença (descartar,
congelar e doar para pesquisa são três possibilidades).
Cláudia Gomes, especialista em reprodução humana do grupo
Huntington, avalia que para todo procedimento que mexe com vidas é
válida uma regulamentação.
“Mas antes de regular, é preciso o debate com a sociedade e com as entidades envolvidas”, diz.
Para ela, evitar doenças genéticas, já sabidamente existentes na família, é “maravilhoso”.
“E isso já é possível. Acho válido selecionar um embrião
para salvar um irmão. Mas acho melhor ainda evitar que um primeiro filho
nasça com uma doença, que aumenta o risco de vida e traz riscos
biológicos.”