Quase toda criança tem aquela pilha que parece não acabar. Enquanto pequenos, esgotam essa energia brincando, mas, quando crescem, a hiperatividade pode
atrapalhar o rendimento escolar. O diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), tem sido cada vez mais comum. Por este motivo, as
vendas de um remédio de tarja preta, recomendado para este tratamento, aumentaram tanto que chegou a faltar no mercado brasileiro no início deste ano. A
situação só foi normalizada em maio.
O Metilfenidato, vendido com os nomes de Ritalina e Concerta, diminui os episódios de dispersão em sala de aula. Desta forma, o aluno consegue compreender
melhor o conteúdo e melhora, consequentemente, o rendimento escolar. Por isso, o consumo desta medicação no país aumentou 75% em crianças com idade de
6 a 16 anos, entre 2009 e 2011, de acordo com o Boletim de Farmacoepidemiologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), divulgado em fevereiro
deste ano.
O médico psiquiatra Marco Antônio Marques Ribeiro Bessa, doutor em Ciências, acredita que o medicamento pode sim promover um melhor desempenho das
crianças na escola. “O Metilfenidato pode contribuir para significativa melhora no rendimento escolar de portadores de TDAH ao melhorar a capacidade de
concentração e a hiperatividade”, defende. Para ele, a “moda” na prescrição de Ritalina é uma consequência da melhora no diagnóstico do TDAH por médicos
com mais informação e treinamento.
O uso do Metilfenidato nos jovens, entretanto, preocupa quase todos os envolvidos no magistério, que defendem que a culpa da recomendação crescente de
Ritalina é o diagnóstico errado. “Para justificar a indisciplina na escola, busca-se o padrão de bom aluno, quieto, que não questiona e, principalmente, que segue
regras. Aqueles que estão distantes desse padrão são encaminhadas, muitas vezes pelos próprios professores, a investigação neurológica e psicológica. Muitos
problemas sociais e encaminhamentos que deveriam ser pedagógicos são substituídos hoje pela medicação precoce”, garante a pedagoga Maria Carolina Lobo
Oliveira.
A psicopedagoga Janaína Paloma Andrade Duda concorda que o diagnóstico precoce tem ocorrido com frequência e pode causar sérios problemas para o
paciente, incluindo a dependência do medicamento. De acordo com ela, o Brasil é o segundo país que mais consome Ritalina no mundo, perdendo apenas para
os Estados Unidos. “Vejo que, nas escolas, muitas crianças são ‘diagnosticadas’ com TDAH e, consequentemente, a prescrição da Ritalina virou moda. Muitas
vezes, o diagnóstico é feito de maneira errônea pelos médicos, sendo necessária uma investigação mais profunda, que deve ser realizada em conjunto por
especialistas, como psicopedagogos, psicólogos e neuropediatras”, ressalta.
Bessa lembra que os efeitos colaterais do Metilfenidato são fortes, como nervosismo, insônia, perda de apetite, dores abdominais e vômitos, principalmente no
início do tratamento. Segundo o psiquiatra, em crianças, o remédio também pode gerar uma diminuição da velocidade do crescimento, que pode ser compensada
nas férias do período escolar, com a interrupção do tratamento.
Preocupada com o futuro dessa geração, Maria Carolina alerta que o resultado da melhora no desempenho escolar de algumas das crianças que são medicadas
com Ritalina pode ser ilusão. “Ela faz com que a pessoa produza, de maneira acrítica e mecânica, mas produza satisfatoriamente, o que é solicitado. Estas
Hiperatividade pode atrapalhar na escola.
Fonte: Paraná-Online