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terça-feira, 29 de setembro de 2015

O Milagre da 28ª Semana


Kelly de Moraes Grolla e Fernando Luso Barreiros Neto: "Tive medo de machucá-los"
Kelly de Moraes Grolla e Fernando Luso Barreiros Neto:
 "Tive medo de machucá-los"(Paulo Vitale/VEJA)
O parto chega ao fim. A mãe ainda não pode acolher o filho nos braços. O bebê é carinhosamente levado para um canto da sala e cercado por médicos que o examinam velozmente. Os profissionais registram uma queda brusca de temperatura no organismo da criança. A pele fininha, com vasos quase expostos, e a escassa gordura do corpo não armazenam o calor a contento. O processo tem de ser drasticamente interrompido. O bebê é envolto em um saco de plástico fino, feito de polietileno, para frear a perda calórica. Incapaz de respirar sozinho, recebe suporte de oxigênio por meio de uma cânula que entra na boca, passa pela garganta e vai até os pulmões. Ele é acomodado sobre um colchão térmico. A cabecinha é protegida com uma touca de lã. A mãe o vê sair. Ele é levado para a UTI do hospital, onde permanecerá por no mínimo dois meses, tempo necessário para que os órgãos amadureçam e se fortaleçam com a ajuda de aparelhos. O sistema digestivo do corpinho frágil não consegue digerir alimentos, tampouco o leite materno é aceito com naturalidade. As paredes das artérias do cérebro são tão finas que podem se romper a qualquer instante. Os rins têm pouca capacidade de filtrar o sangue.​


A evolução na taxa de sobrevivência sem sequelas dos chamados prematuros extremos, aqueles que precisam de mais cuidados ao nascer. Os pesos e as alturas representam uma média - Fonte: Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos
A evolução na taxa de sobrevivência sem sequelas dos chamados prematuros extremos, aqueles que precisam de mais cuidados ao nascer. Os pesos e as alturas representam uma média - Fonte: Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos(VEJA.com/VEJA)

​Assim correm os primeiros minutos da vida de um bebê nascido com 28 semanas de gravidez, apenas 1 quilo e 29 centímetros de comprimento. Hoje, seis a cada dez crianças com medidas assim, tão diminutas, conseguem sobreviver sem nenhum tipo de sequela. "Houve espetacular avanço, um dos mais fascinantes da medicina", diz Suely Dornellas do Nascimento, pediatra neonatologista do Hospital Santa Joana, em São Paulo. Há duas décadas, apenas quatro venciam a dramática travessia inaugural. No patamar das 28 semanas deu-se o grande salto estatístico. Mesmo em bebês ainda mais prematuros, de 25 semanas, celebra-se alguma conquista - de 18% de sobreviventes sem danos posteriores, taxa registrada em 1997, saltou-se para 22% agora. Crescidos, esses bebês levarão vida igual à dos nascidos a termo, de 38 a 42 semanas, com 3 quilos e os órgãos completamente desenvolvidos. A animadora informação faz parte do maior estudo já realizado sobre a prematuridade, recém-publicado na revista científica The Journal of the American Medical Association (Jama). Conduzido pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), o trabalho avaliou 35 000 bebês nascidos antes do tempo ao longo de dezenove anos. É um marco.
Extraordinárias inovações da medicina neonatal permitiram que vidas começassem mais cedo - como a criação do teste de Apgar (do nome da médica americana Virginia Apgar), que, em 1950, estabeleceu critérios para definir os sinais vitais de um recém-­nascido. Ela também propunha que outro médico cuidasse exclusivamente da saúde da criança. A presença de especialistas na sala de parto permitiu uma melhora na saúde do bebê ao nascer. Já mais recentemente, em 2011, autorizaram-se procedimentos cirúrgicos ainda no ventre da mãe. Na neonatologia, contudo, a tecnologia anda de mãos dadas com a delicadeza do contato materno e, em menor grau, também do paterno. Valoriza-se tanto o uso de cateteres, sondas e eletrodos, garantia de bom funcionamento das funções vitais, quanto o colo dos pais e uma UTI com iluminação reduzida de modo a acalmar os pequenos pacientes.

Fonte: 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Brasil tem alta taxa de prematuros

O número de nascimentos prematuros no Brasil – principal causa de morte até os 28 dias de vida do bebê – se assemelha ao de países de baixa renda. A cada mil brasileiros nascidos em 2011, 117 não chegaram a completar 37 semanas de gestação. Em países pobres, foram 118 prematuros para mil partos, contra 94 nos de renda média. O dado nacional é bastante superior ao que vinha sendo considerado pelo Ministério da Saúde até então – 7,2% – e tem relação com as altas taxas de cesáreas eletivas praticadas no país. É o que afirma o estudo “Prematuridade e suas possíveis causas”, desenvolvido na Universidade Federal de Pelotas, com participação de 12 universidades brasileiras e apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).O obstetra Carlos Miner Navarro, professor da Uni­­versidade Federal do Paraná (UFPR), explica que existem dois tipos de prematuridade: um que pode ser minimizado com medidas como acompanhamento pré-natal, por meio de utrassonografia, e outro diretamente relacionado à escolha pela cesariana. No primeiro caso, se o exame indicar que o colo do útero é curto, é feita medicação para atrasar a data do parto. “Estudos mostram que uma ou duas semanas fazem muita diferença no desenvolvimento do bebê”, explica.

O desafio, porém, é reduzir o número de cesáreas eletivas no país. Segundo Navarro, se o parto normal fosse priorizado no país, a taxa de prematuridade cairia. Atualmente, o número de cesarianas supera o de partos naturais, chegando a 80% dos nascimentos em hospitais privados. “Exceto em casos específicos, o parto normal é sempre melhor. Há margem de erro nas contas das semanas e, muitas vezes, o bebê é retirado sem estar pronto. O trabalho de parto termina de amadurecer a criança, joga uma série de hormônios na corrente sanguínea e fortalece o tórax.”

Segundo a pediatra e neonatologista Regina Caval­­cante, coordenadora da UTI neonatal do Hospital de Clí­nicas, entre as causas de partos prematuros, estão assistência pré-natal inadequada, uso de drogas, gravidez gemelares e fora da idade ideal. “Os dois extremos são risco: as mães adolescentes e as mães acima de 35 anos.”


As preocupações com o bebê prematuro, vão além da mortalidade. Expostos a tratamentos agressivos e ao ambiente de terapia intensiva, há risco de infecção e de sequelas neurológicas, respiratórias e de visão. “Quanto menor o bebê, maior o risco de retinopatias, que podem causar cegueira”, completa Regina.


Pediatra na UTI neonatal do Hospital Nossa Senhora das Graças, Rejane Biasi Cunha explica que o peso nem sempre é o fator mais determinante para a sobrevivência do bebê. “A idade funcional é mais importante, porque às vezes ele pesa pouco por ser desnutrido e não é tão prematuro.”


Parto normal, uma escolha feliz


Enquanto fazia o pré-natal do primeiro filho, há três anos, a fotógrafa e publicitária Laiz Zotovici Martins, 33 anos, foi desaconselhada pelo médico a tentar parto normal. “Ele disse que eu não tinha dilatação, contração e agendou a cesárea para 39 semanas e meia. Sendo que poderíamos ter, pelo menos, esperado eu entrar em trabalho de parto”, recorda. Seis meses depois do nascimento de Antônio, Laiz criou um blog sobre maternidade e começou a trocar informações com médicos e outras mães pela internet.


Quando veio a segunda gravidez, no final do ano passado, ela estava decidida a encontrar um obstetra adepto do parto normal. “Foi uma escolha bem feliz! Na mesma semana do parto, já estava lavando roupa, fazendo comida e podendo brincar e dar atenção ao Antônio.”


Segundo Laiz, o segundo filho, Théo, apresenta imunidade maior do que o primogênito. “O parto é um sofrimento necessário para o fortalecimento do pulmão, e, para a mulher, é uma experiência única e profunda de autoconhecimento. Se eu tiver outro filho, será de parto normal, talvez até em casa.”


80% é a taxa de sobrevida dos prematuros nascidos entre 28 e 37 semanas. Mas a pediatra Rejane Biasi Cunha explica que esse porcentual varia muito, e cai para 60% com gestação inferior a 28 semanas. Abaixo de 22 semanas não há maturidade suficiente para o bebê sobreviver.


 


Fonte: GAZETA DO POVO

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Projeto de saúde monitora prematuros por até 20 anos

Para prevenir doenças físicas e psicológicas, iniciativa da Unifesp acompanha cem crianças que nascem todos os anos antes do tempo


Fernanda Aranda/ iG São Paulo
Projeto da Unifesp monitora prematuros por 20 anos. Na foto, os pés de Eduarda, nascida com menos de um quilo
Nas próximas duas décadas, todos os passos dados pelos pés da foto acima serão monitorados. Por enquanto, os membros de apenas 4 centímetros – menores do que um polegar adulto – precisam crescer mais na incubadora, recebendo oxigênio e alimentação por sonda.
A dona dos pezinhos inquietos é Eduarda, nascida no dia 18 de setembro, pesando 846 gramas, depois de uma gestação incompleta de 6 meses. A condição de saúde frágil a levou direto para UTI do Hospital São Paulo, sem previsão de alta. Apesar dos médicos não conseguirem estimar o tempo de internação, eles já prescreveram a receita de um desenvolvimento seguro: 20 anos de acompanhamento intenso após a alta hospitalar.


Isso porque os estudos científicos mostram que os bebês com baixo peso extremo (menos de 1,5 quilo) crescem mais suscetíveis a problemas cardíacos, pulmonares, ortopédicos e neurológicos quando comparados às crianças que nascem de gestações de nove meses completos.


“As piores condições de saúde, por vezes, demoram a se manifestar, em especial quando são psicológicas. Por isso, decidimos que todos precisam ser monitorados até, no mínimo, os 19 anos e 11 meses” afirma o professor de neonatologia Benjamin Israel Kopelman, um dos idealizadores do Programa de Monitoramento do Prematuro da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O trabalho é feito em parceria com a ONG Viver e Sorrir, por equipes de psicólogos, assistentes sociais, pediatras, nutricionistas e cardiologistas. Todo ano, cerca de cem crianças que nascem com menos de 1 quilo são encaminhadas ao programa.
“É isso que vai proporcionar uma vida adulta saudável, independente e com menos sequelas. O prematuro, não importa a idade, sempre será um prematuro”, completa Kopelman.


O programa da Unifesp nasceu há 8 anos e foi desenhado de acordo com as demandas colhidas na maternidade São Paulo. Voltado às famílias de baixa renda, o trabalho também é social e já garantiu aparelhos de surdez, cadeiras de roda e próteses ortopédicas aos participantes, tudo por meio de doações.

Fernanda Aranda/ iG São Paulo
Gustavo, prematuro, está com 8 anos e há 8 anos é monitorado. Na foto, ele se diverte com a mãe Eliane
No total, 800 prematuros são monitorados neste projeto. A mais nova é a Eduarda, dos pezinhos de 4 centímetos. O mais velho, Gustavo Martins Pereira, 8 anos, é torcedor do São Paulo, fã de Power Rangers e apreciador de “macarrão de gravatinha com salsicha”.
“Como três pratos cheios e ainda quero mais”, diz ele, deixando para trás os tempos de alimentação difícil, que o obrigaram a passar quatro meses na UTI só para ganhar peso.
“O Gustavo nasceu com 790 gramas, após seis meses de gestação e eu não conseguia acreditar que ele sobreviveria”, lembra a mãe Eliane da Silva Martins, 40 anos.
“Eu ficava ao lado do leito da UTI rezando para ele engordar. Todo dia era uma vitória. Hoje, ele frequenta a escola, não tem nenhum problema cognitivo e, meu Deus, como é arteiro”, reclama e comemora – simultaneamente – Eliane.
Até o terceiro ano de vida, Gustavo voltava a cada dois meses para ser avaliado pela equipe. Hoje, as consultas têm espaçamento de um semestre. O monitoramento dos outros prematuros é definido de acordo com o desenvolvimento de cada criança.
“E quando elas desaparecem, mudam de casa, nossas assistentes sociais fazem a busca e reforçam a importância da participação no projeto”, contou Kopelman.


Pesquisa
Além dos atendimentos clínicos e sociais, também é responsabilidade da equipe do programa da Unifesp fazer pesquisas sobre o desenvolvimento, os tratamentos mais efetivos e as condutas mais exitosas com os prematuros.
Isso porque o número de nascidos antes do tempo está em ascensão. O novo relatório do MInistério da Saúde mostra que em 10 anos – entre 2000 e 2010, eles passaram de 6,7% do total de nascimentos para 7,1%. Em São Paulo, informa a Fundação Seade, os prematuros já são 9%.


As explicações para esse crescimento são o aumento da idade materna, a proliferação dos tratamentos de fertilização assistida e também os próprios avanços da medicina que garantiram a sobrevivência das crianças muito pequenas e a realização dos partos de gestantes de alto risco.
“Mas ainda temos muitos desafios. Os prematuros somam 40% das crianças que não sobrevivem até completar 5 anos”, afirma Ana Lucia Goulart, chefe da Disciplina de Pediatria Neonatal da Escola Paulista de Medicina.
Gustavo é um dos sobreviventes. Por meio desta vigília médica, aos 4 anos, começou a usar próteses na perna esquerda, que crescia em desvantagem com relação à direita. Deu certo.
Os pés do menino – assim como o de Eduarda, os pés dele nasceram com apenas 4 centímentros – hoje calçam tênis tamanho 24, compatível à idade.
“E pulam na cama, sobem e descem escada correndo, jogam futebol”, descreve, com orgulho, a mãe Eliane.

Fonte: http://saude.ig.com.br/minhasaude/2012-11-07/projeto-de-saude-monitora-prematuros-por-ate-20-anos.html

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Assistência a bebês prematuros implica decisões difíceis


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Bebês prematuros: entre 23 e 26 semanas, a decisão cabe a médicos, pais e políticas hospitalares
No meu primeiro dia como residente de Pediatria do Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, fui designado para a unidade de terapia intensiva neonatal. Fiquei impressionado com o lugar. Três (ou, como viria a descobrir mais tarde, quatro) salas grandes estavam repletas de incubadoras transparentes de plástico. Dentro de cada uma delas havia um bebê. Muitos deles eram extremamente prematuros. 

Alguns eram pequenos o suficiente para caber na palma da minha mão e pesavam menos de um quilo. Seu tórax pequenino se elevava a cada batimento cardíaco. Sua pele era fina como papel. Um aparelho de ventilação mecânica respirava por eles; cateteres intravenosos viajavam pelo corpo de cada um, para alimentá-los; eletrônicos sensíveis monitoravam cada mudança, mesmo que sutil, em seus sinais vitais.
As unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN) são um triunfo do investimento da medicina moderna em tecnologia, medicamentos e conhecimento. Elas existem para concluir o trabalho iniciado pela natureza, já que 500 mil vezes por ano – mais do que em qualquer outro lugar no mundo industrializado – um bebê norte-americano nasce prematuramente. Nos casos mais precários, a criança nasce à margem da vida: em algum momento entre 23 e 26 semanas de gestação, ou no que é chamado de limite de viabilidade.
Na década de 1960, quando surgiram as primeiras UTINs, os bebês prematuros corriam um risco de 95 por cento de morrer. Hoje, têm 95 por cento de chance de sobreviver.
Esse limite mudou radicalmente ao longo do último meio século. Na década de 1960, quando surgiram as primeiras UTINs, os bebês prematuros corriam um risco de 95 por cento de morrer. Hoje, têm 95 por cento de chance de sobreviver. Isso, nas palavras de um neonatologista, o Dr. Nicholas Nelson, mudou o modo como enxergamos os bebês prematuros, como "um paciente a ser atendido, ao invés de um objeto do qual sentir pena".
Estamos hoje diante de uma escolha difícil, não muito diferente daquela enfrentada pelos médicos que cuidam de adultos que se aproximam do fim da vida: saber por quem lutar e quem devemos deixar partir. A decisão diz muito sobre como passamos a olhar para o menor e mais frágil dos pacientes.
Salvar vidas tão jovens assim não é benigno. Sobreviventes da prematuridade extrema têm complicações frequentes, e muitas vezes graves, durante o tempo que passam na UTIN. No pior dos casos, essas crianças sofrerão de deficiências para o resto da vida: paralisia cerebral; deficiência visual grave, que óculos de lentes grossas e cirurgia ocular podem corrigir apenas parcialmente; pulmões marcados que só os deixarão dependentes de tanques de oxigênio; problemas intelectuais e comportamentais que os colocam bem atrás de seus pares.
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Prematuro em incubadora: embora índice de sobrevivência seja alto, sequelas podem ser graves
Chances de sobrevivência
Em parte porque as perspectivas dessas crianças podem ser tão obscuras, a Academia Americana de Pediatria sugere não ressuscitar bebês nascidos antes de 23 semanas, enquanto que os bebês nascidos após 26 semanas geralmente são ressuscitados.
Entre 23 e 26 semanas os riscos continuam altos, mas a chance de sobrevivência fica mais alta a cada semana. Esse grupo de bebês é descrito pela organização pediátrica como uma zona cinzenta, e os médicos e os pais devem tomar uma decisão difícil quanto à possibilidade de tentar ressuscitar um bebê sem saber ao certo o que vai ocorrer.

As circunstâncias raramente são ideais. Os neonatologistas entram no quarto de um paciente, dia ou noite, em meio à intensa atividade de obstetras e enfermeiros que tentam dar conta do trabalho. É um momento de emoção, tensão e incerteza que não contribui para uma discussão ou reflexão detalhada. Não surpreende, então, que essas decisões de vida ou morte sejam tomadas de forma inconsistente.
Em uma pesquisa de 2005, pesquisadores da Universidade McGill, em Montréal, entrevistaram 165 residentes pediátricos e obstétricos em quatro centros médicos de Québec sobre a ressuscitação de bebês nascidos entre 23 e 26 semanas. Alguns residentes, descobriram os pesquisadores, trabalhavam em hospitais que tinham uma cultura agressiva de ressuscitação. Outras instituições adotavam abordagens menos agressivas: mesmo com 26 semanas, quando a chance de sobrevivência de um bebê prematuro é maior do que 70 por cento, os residentes desses centros médicos indicaram que tentariam a ressuscitação apenas por cerca de metade do tempo. Os pediatras dos EUA também têm abordagens altamente variáveis da ressuscitação de bebês prematuros, sugerem estudos.
A opção dos pais
Os pais sustentam uma ética muito mais consistente. Um estudo feito em 2001 por pesquisadores da Universidade McMaster, em Ontário, mostrou que uma maioria significativa acredita que o correto é tentar salvar todos os bebês, independentemente da condição ou peso com que nascem. Apenas 6 por cento dos profissionais de saúde disseram o mesmo. Estudos mais antigos realizados nos EUA sugeriram que os pais americanos concordam com os canadenses.
"Costumava-se pensar que a paralisia cerebral era sempre culpa de Deus". Agora, aproximadamente metade dos casos são culpa nossa, escreveram eles, e "é difícil conviver com isso".
Por que existe essa lacuna entre os pais e alguns médicos, mesmo quando a tecnologia médica torna possível salvar um número cada vez maior de bebês prematuros? Talvez os médicos que estão relutantes em intervir a todo custo estejam bastante familiarizados com as possíveis consequências – e cautelosos em relação a elas. Como colocaram dois neonatologistas, o Dr. William Meadow e o Dr. John Lantos: "Costumava-se pensar que a paralisia cerebral era sempre culpa de Deus". Agora, aproximadamente metade dos casos são culpa nossa, escreveram eles, e "é difícil conviver com isso".
Além disso, muitos médicos se deram conta de que o calvário da ressuscitação não se limita aos bebês. A UTIN também é extremamente difícil para os pais.
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Prematuro passa por ressuscitação: associação americana sugere não ressuscitar bebês nascidos antes de 23 semanas
Mãe e médica
Em 2005, a Dra. Annie Janvier, neonatologista de Montréal que investiga a tomada de decisões em circunstâncias médicas incertas, tinha pouco mais de 23 semanas de gravidez quando entrou em trabalho de parto. Ela deu à luz no hospital onde trabalhava como neonatologista. "Meu bebê estava na categoria 'opcional', e nós tivemos que tomar uma decisão", lembrou.
A equipe teve de tomar as medidas necessárias. A garotinha, a quem deram o nome de Violette, foi direto para a UTIN. Ela passaria por um caminho cheio de percalços, chegando a ficar tão doente em um determinado ponto que Annie e seu marido decidiram recusar o tratamento. A menina se recuperava e, em seguida, quase sucumbia a uma infecção.
Tudo isso teve um impacto profundo sobre a mãe – mas não do tipo que esperaríamos. "Eu detestava visitar a unidade de terapia intensiva neonatal quando ela estava instável", escreveu ela em um ensaio sobre as primeiras semanas de Violette. "Eu odiava ser incentivada a participar do atendimento prestado a ela."
Não se conectar com muita força a um recém-nascido prematuro ou doente pode ser um mecanismo de proteção para os pais, acredita a mãe hoje. Afinal, durante a maior parte da história humana, os bebês prematuros simplesmente morriam. Mas na medicina moderna, com a expectativa de que todo bebê tem uma chance de lutar pela vida, surge uma nova relação com essas crianças – hoje pacientes, não objetos – que ainda estamos nos esforçando para confrontar.
Os médicos podem escolher a mesma abordagem. O que me pareceu, como residente, foi que os ocupantes dessas pequenas incubadoras eram mais fetos do que bebês, um sendo permutável pelo outro. Nós nem sequer lhes dávamos nomes, apenas um número no prontuário, ou nos referíamos a eles pelo gênero – como "bebezinha", por exemplo. Era mais fácil monitorá-los quando seus pais não estavam lá. Bastava ter os números a serem observados naquela noite, fazer um exame rápido e seguir em frente. Tudo isso me ajudou a ter um certo desprendimento.
Muitos estudos mostram que a grande maioria dos bebês que nascem extremamente prematuros passa a viver uma vida satisfatória e produtiva. Violette deixou a UTI neonatal quando tinha 4 meses de idade. Hoje é uma menina feliz, saudável. Ainda assim, quando o fim da vida está tão perto de seu início, não existem dias fáceis na neonatologia. Os médicos fazem o melhor que podem sob tremenda pressão, sofrendo de uma enorme incerteza emocional e clínica. Trata-se de um lembrete de que, apesar do fato de termos a melhor tecnologia possível nas UTINs, a medicina continua a ser um esforço fundamentalmente humano – e, portanto, imperfeito.
* Rahul K. Parikh é pediatra em Walnut Creek, Califórnia, e escreve para a revista on-line Salon.com
NYT


Fonte: http://delas.ig.com.br/filhos/2012-08-19/assistencia-a-bebes-prematuros-implica-decisoes-dificeis.html

terça-feira, 19 de junho de 2012

Cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros, diz estudo

De acordo com o relatório da Organização da Mundial (OMS), a cada ano, nascem aproximadamente 15 milhões de bebês prematuros. Foto: Shutterstock/Especial para Terra
De acordo com o relatório da Organização da Mundial (OMS), a cada ano, nascem aproximadamente 15 milhões de bebês prematuros
Foto: Shutterstock/Especial para Terra

 
Prematuridade é umas das grandes preocupações de uma gestação. De acordo com o relatório da Organização da Mundial (OMS) Born Too Soon: The global action report on preterm birth (na tradução livre, Nascido Cedo Demais: O relatório de ação global sobre o nascimento prematuro), a cada ano nascem aproximadamente 15 milhões de bebês prematuros em todo o mundo. No Brasil, são cerca de 280 mil, segundo o documento.

As principais causas de partos prematuros são gravidez múltipla, incompetência istmocervical (quando a gestante apresenta dilatação do colo do útero já nos primeiros meses de gestação) e infecções (de urina, bucais, resfriados), revela Silvana Chedid, especialista em reprodução humana e diretora do Instituto Valenciano de Infertilidade, de São Paulo. "Existem também mulheres que têm parto prematuro, mas que a medicina não sabe como explicar o motivo do fenômeno", afirma.

Um parto é considerado prematuro quando ele acontece antes de a gestação completar 37 semanas. "Os bebês prematuros extremos são aqueles que nascem antes de a gravidez completar 30 semanas", explica a médica. "Habitualmente, dependendo da qualidade da maternidade, bebês com cerca de 500 gramas de peso conseguem sobreviver. Mas as condições do hospital são cruciais para o quadro do recém-nascido", alerta.

Gravidez múltipla
As gestantes que estão esperando mais de um bebê correm um risco muito maior de ter um parto prematuro. Por conta do peso, o colo do útero sofre muita pressão, o que pode acabar resultando em nascimentos antes do momento adequado.

Segundo Silvana, a indicação geral para todas as grávidas de gêmeos é repouso. Sem muito esforço físico, a pressão no útero fica um pouco mais branda. Em casos mais específicos, o obstetra pode receitar medicações.

Incompetência istmocervical
A incompetência istmocervical é a dilatação do colo do útero nos primeiros meses da gestação. "O normal é que a dilatação apareça momentos antes do parto, próximo da 40ª semana de gestação. Por conta disso, as mulheres que são portadoras desse distúrbio podem ter o bebê antes do tempo", esclarece Silvana.

O problema pode ser solucionado com uma cirurgia chamada de cerclagem. Na operação, que será feita durante a gravidez, o médico vai dar um ponto em volta do colo do útero e deixará o local fechado até o dia do parto. A dilatação precoce, na maioria das vezes, é detectada no decorrer das consultas de pré-natal.

De acordo com a médica, uma das principais causas de incompetência de istmocervical é o aborto feito sem o devido acompanhamento médico. "O aborto provocado, feito em locais clandestinos, por profissionais que atuam na ilegalidade, pode acabar dilatando o colo de útero de maneira muito agressiva. Posteriormente, quando essa mulher decide engravidar, ela pode desenvolver esse problema", esclarece Silvana.

Infecções
Qualquer tipo de infecção durante a gestação pode trazer riscos de parto prematuro. O acúmulo das bactérias circulando no organismo pode estimular as contrações uterinas.

Nesses casos, as infecções devem ser tratadas. Mesmo que o tratamento seja feito com outro especialista, o obstetra tem que estar ciente de todas as medicações que a paciente está tomando. O tratamento diminui as chances de ocorrer um nascimento antes do tempo.

Fonte: http://vidaeestilo.terra.com.br/fertilidade/noticias/0,,OI5844234-EI20144,00-Cerca+de+milhoes+de+bebes+nascem+prematuros+diz+estudo.html

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Prematuridade - 'Dez gramas a mais eram como se fosse um quilo', diz mãe de bebê de 360 gramas'



Foto: Arquivo pessoal A bebê Carolina, que nasceu com 360 gramas

 Carolina nasceu prematuramente após 25 semanas de gestação em novembro e teve alta nesta quarta-feira; ela é considerada um dos menores bebês do Brasil

Denise Motta, iG Minas Gerais |
Carolina nasceu em 16 de novembro do ano passado com apenas 360 gramas e 27 centímetros, após 25 semanas de gestação. A fragilidade do bebê não impediu que ela lutasse para sobreviver e, nesta quarta-feira (02), Carolina recebeu alta médica.
Sua saída do hospital foi comemorada pelos pais, Alexandra Terzis e Thiago Fernandes. A mãe conversou com jornalistas pouco antes de levar a filha para casa e confessou que a cada 10 gramas a mais no peso da pequena Carolina, comemorava como se fosse um quilo. A bebê deixou o hospital com 3,3 quilos e 47 centímetros.
Logo após nascimento, a pequena Carolina foi levada à Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) de um hospital na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Nova Lima. Ela seria um dos menores bebês já nascidos no Brasil e no mundo, conforme aponta a literatura médica.
Alexandra teve complicações durante a gravidez, o que teria facilitado um parto prematuro. Com 25 semanas de gestação, ela apresentou eclâmpsia, uma complicação gerada por hipertensão e caracterizada por convulsões. Com riscos em uma nova gravidez, Alexandra pretende adotar uma criança para fazer companhia à Carolina, a quem chama carinhosamente de Carol, “um presente de Deus”.
O menor bebê do mundo que se tem notícia nasceu em Miami, com 280 gramas, após 22 semanas de gestação. O menor bebê do Brasil, antes de Carolina, era Arthur Carvalho da Costa, que nasceu com 385 gramas e 23 centímetros, após 25 semanas.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A vida secreta das mães de UTIs

Bebês com baixo peso e altos custos com internamento estão entre os efeitos da taxa crescente de crianças nascidas antes da hora no Brasil
Enquanto a taxa de natalidade cai ano a ano, a proporção de bebês nascidos antes da hora só aumenta no Brasil. De 2001 a 2010, o número absoluto de nascimentos teve queda de 8,2%, passando de 3,1 milhões para 2,8 milhões. No mesmo período, o porcentual de prematuros foi de 6,3% para 7,1% do total – o equivalente a quase 205 mil bebês em 2010, na sua maioria com baixo peso e outras complicações. Além dos problemas de saúde que obrigam as crianças a ficar meses internadas, as famílias enfrentam o desgaste emocional e os altos custos dos tratamentos.
O Ministério da Saúde não tem dados de quanto custa tratar um bebê prematuro, mas informa que paga ao menos R$ 478,72 por uma diária em UTI. Esse valor pode ser multiplicado por quase dez se forem computados outros gastos, como medicamentos e alimentação especial. Segundo maternidades de Curitiba, uma diária pode chegar a R$ 4 mil, dependendo do grau de comprometimento do recém-nascido.
De acordo com o Ministério da Saúde, não existem no Brasil estudos que determinem as causas para o crescimento da prematuridade. Mas fatores como a preferência pela cesariana, o crescimento das gestações múltiplas e o adiamento da maternidade estão entre as possíveis explicações.
O Brasil tem uma das maiores taxas de cesáreas do mundo. 45% dos partos são cirúrgicos, enquanto a Organização Mundial da Saúde estabelece o limite de 15%. O quadro piora quando se considera gestantes com melhores condições financeiras: entre as que têm plano de saúde, a proporção de cesarianas sobe para 90%. “Quando é programada com semanas de antecedência, a cesariana pode aumentar a chance de nascimento prematuro. Há casos de indicação médica para esse tipo de procedimento, mas nos demais o ideal é o parto normal, que desencadeia uma série de alterações hormonais necessárias à preparação da criança para o parto”, explica o médico Nelson Arns, doutor em Saúde Pública.

Gestações múltiplas
O porcentual de gestações múltiplas cresceu 17% no país em sete anos. Segundo a Pes­­­­­quisa Registro Civil 2010, do IBGE, a proporção de brasilei­ros nascidos nesse tipo de parto passou de 1,59% para 1,86% do total entre 2003 e 2010, o que significa que apenas em 2010 nasceram cerca de 50 mil gêmeos, trigêmeos e quadrigêmeos (3 mil no Paraná).
A ginecologista Francieli Maria Vigo, pós-graduanda em Reprodução pela Universidade Federal de São Paulo, diz que as chances de parto prematuro são três ou quatro vezes maiores em gestações múltiplas. “Depende do número de fetos e das condições de saúde da mãe. Quanto mais bebês e quanto mais delicado o quadro da mãe, maiores as chances de parto prematuro.”
Nelson Arns, coordenador nacional da Pastoral da Criança, destaca também a idade materna como outro fator importante. “Um estudo feito na Dinamarca comprovou que o risco de parto prematuro é maior entre mães muito jovens e entre as que optam por ter filho mais tarde.”
Para ele, no caso das mães mais jovens pesa o fator econômico. “Geralmente meninas pobres têm filhos antes da hora. Elas não têm acesso ao pré-natal de qualidade e não previnem ou tratam doenças, como a infecção urinária, que antecipam o nascimento do bebê.” Com relação às mães mais maduras, ele acha que elas precisariam ser devidamente informadas que estão mais sujeitas ao parto prematuro e a todas as consequências dessa escolha.
Nelson Arns alerta ainda para o fato de muitas mulheres deixarem de fazer exames de sangue durante a gestação, mas não abrirem mão da ecografia. “No Brasil se faz mais ecografia do que exame de sangue. Esse comportamento precisa mudar, pois a primeira serve apenas para satisfazer uma curiosidade sobre o sexo do bebê, enquanto os exames de sangue podem identificar e ajudar no tratamento de várias doenças.”

Boom de gestação de gêmeos pode ser freado no país
A preocupação com o avanço das gestações múltiplas é mundial. E como há a associação direta entre o maior número de partos gemelares e as técnicas de reprodução assistida, alguns países estabeleceram regras rígidas para os processos de fertilização in vitro.
É o caso da Finlândia, que só faz o implante de um embrião por procedimento. Lá os tratamentos são patrocinados pelo governo, que prefere pagar os custos de várias tentativas para uma mulher engravidar do que arcar com os efeitos indesejados de gestações múltiplas, especialmente o nascimento de prematuros.
“No Brasil não temos mais do que cinco centros públicos de reprodução assistida. Eles não respondem nem por 5% dos procedimentos realizados todos os anos, que giram na casa dos 50 ou 60 mil. E como os custos são altos – uma fertilização in vitro pode chegar a R$ 18 mil –, os casais buscam maiores chances de sucesso e optam pela implantação de mais de um embrião”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Adelino Amaral.
Mas aqui as regras também estão se tornando mais rígidas e há a expectativa de que nos próximos anos o país reverta a tendência de elevação das gestações múltiplas, como reflexo da resolução 1.957/2010, do Conselho Federal de Medicina (CFM). Ela limita o número de embriões implantados por procedimento: dois para mulheres com menos de 35 anos; três, para quem tem até 40 anos; e no máximo quatro para quem é mais velha. Antes da mudança, mulheres com qualquer idade podiam receber até quatro embriões.

Múltiplos
Os números do IBGE mostram que o crescimento nas gestações múltiplas se concentra nos casos de gêmeos. Mas, mesmo sendo possível para mulheres de qualquer idade implantar ao menos dois embriões, o médico Renato Fraietta, coordenador do Centro de Reprodução Assistida da Universidade Federal de São Paulo, diz que a resolução do CFM vai impactar nas gestações de gêmeos. “Quando implantamos quatro embriões, dificilmente todos se desenvolvem. Agora, com dois embriões, ainda teremos gêmeos, mas será mais comum o desenvolvimento de apenas um bebê.”
Já há relatos de queda nos casos de gestações gemelares, pois, antes mesmo da resolução do CFM, os médicos sentiram a necessidade de reduzir o número de embriões implantados. “O médico tem conhecimento de todas as complicações dos partos múltiplos e o dever de orientar o casal. É bonito ver dois, três ou até quatro bebês juntos, mas há muitas implicações que precisam ser consideradas”, diz o obstetra Hélcio Bertozzi Soares, da Câmara Técnica de Reprodução Assistida do Conselho Regional de Medicina.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1246951&tit=A-vida-secreta-das-maes-de-UTIs