terça-feira, 16 de novembro de 2010

AVALIAÇÃO PRECOCE DE CRIANÇAS PORTADORAS DE PARALISIA CEREBRAL

AVALIAÇÃO PRECOCE DE CRIANÇAS PORTADORAS DE PARALISIA CEREBRAL

A avaliação fonoaudiológica de crianças portadoras de Paralisia Cerebral, consiste primariamente, em avaliar as habilidades sensório motoras dos vários componentes envolvidos na produção da fala.
Tanto as habilidades motoras orais como as habilidades do motor grosso são avaliadas e comparadas com a performance de crianças que desenvolvem-se dentro dos padrões de normalidade.
As habilidades sensório motoras são avaliadas a nível de qualidade, quantidade e simetria.
A presença de comportamentos ou performances anormais é normalmente indicativo de lesão orgânica do sistema nervoso central o que resulta num distúrbio do motor grosso.
O funcionamento da musculatura oral está muito relacionado com o tônus muscular, posição e postura do corpo e movimentos corporais. Isto significa que os distúrbios nas habilidades motoras orais em crianças portadoras de Paralisia Cerebral, devem ser vistos dentro dos grandes distúrbios de habilidades do motor grosso.
Durante a avaliação e julgamento das funções orais da criança, o Fonoaudiólogo não deve observar apenas mudanças e respostas visuais e acústicas mas também sentir as mudanças de tônus e movimentos. Sem este enfoque a avaliação fornecerá informações incompletas.
Antes da avaliação das habilidades individuais da criança, os pais são entrevistados e pede-se que eles discutam sobre seus problemas e sobre as dificuldades motoras que observam em seu filho.
O que se Avalia e se Observa?
1.Expressão Facial
-Existe falta de expressão facial apropriada em caso de hipo ou hipertonia?
-Existe excessiva expressão facial quando na mudança de tônus muscular?
-A expressão facial da criança reage devagar ou rápido e é apropriada ao estímulo?
-A expressão facial corresponde ao intento comunicativo ou emocional?
-As mudanças na expressão facial estão relacionadas com a persistência de reflexos como o tônico assimétrico?
2.Reflexos Orais
-A criança deve estar na posição supina e com a cabeça controlada quando o terapeuta for testar estes reflexos.
-A persistência dos reflexos orais são um dos principais comportamentos anormais observados durante a avaliação da criança portadora de Paralisia Cerebral.
-Na criança "normal", estes reflexos devem ser controlados voluntariamente por volta dos 4 a 7 meses.
-O atraso no desenvolvimento do motor grosso tem papel fundamental na inabilidade de supressão dos reflexos orais.
Na Testagem:

-Estes reflexos são expressos de maneira forte ou fraca?
-Eles estão presentes no período apropriado?
-Eles podem ser desencadeados em ambos os lados? (se não, estão eles em interação com algum padrão patológico como o R.T.C.A.?).
3.Comportamento na Alimentação
-Com a Colher:
-Fluxo dos movimentos dos lábios.
-Inicialização da deglutição na parte posterior da cavidade oral.
-Existe um grau apropriado de abertura de boca e protrusão labial correta na antecipação do alimento?
-O lábio superior remove o alimento da colher?
-A boca está aberta ou fechada durante a deglutição?
-A língua empurra o alimento para a parte posterior da boca na inicialização da deglutição ou existe uma projeção da língua?
-Existe coordenação entre os movimentos de respiração e deglutição? (Durante a deglutição a respiração deve ser suspensa. Somente o recém-nato é capaz de respirar e deglutir ao mesmo tempo por uma postura elevada de suas estruturas laríngeas).
-A alimentação está prejudicada pela presença de reflexos orais?
-Como os movimentos de deglutição podem estar relacionados com o motor grosso?
-Bebendo:
-O movimento de lábio e a coordenação respiratória estão adequados?
-Na mamadeira os lábios ocluem ao redor do bico? Os movimentos de sucção são fortes ou a criança recebe o líquido passivamente?
-Na xícara os movimentos de lábio superior são ativos? Quando isto não é possível são notados movimentos compensatórios de mandíbula?
-O líquido pode ser controlado na boca com a presença de hipo ou hipertonia ou isto resulta num distúrbio de coordenação da deglutição.
-O ato de beber provoca padrões reflexos patológicos?
-Mastigando:
-O terapeuta deve observar se o alimento está sendo mastigado ou se está apenas sendo sugado.
-Os movimentos de abertura e fechamento de mandíbula estão ocorrendo com um movimento rotacional leve?
-A comida é levada pela língua para os dentes molares para a mastigação?
-As bordas da língua são capazes de manter o alimento posicionado entre os molares para a mastigação?
-O ato de amassar o alimento com a língua contra o palato é mais freqüente que a mastigação?
-Os movimentos patológicos do corpo estão inibindo uma correta mastigação?
-Sensibilidade Oral:
-Uma sensibilidade oral anormal é freqüentemente razão para uma dificuldade na alimentação. A área dentro da boca é uma das regiões mais sensitivas do corpo.
-Ao redor/ fora da boca: quando se toca esta região a criança responde com tônus muscular anormal ou este estímulo resulta em padrões reflexos patológicos anormais?
-Dentro da boca: em que posição dentro da boca o reflexo de vômito pode ser provocado? A estimulação das gengivas resulta em padrões reflexos patológicos?
-Quando avaliar a sensibilidade oral, observar onde a criança posiciona a mão e os objetos na boca. Caso a criança não leve a mão à boca, existe uma restrição postural ou uma hipersensibilidade oral?
-Quando um objeto é levado a boca observar a quantidade de movimentos feitos pela criança, se os movimentos exploratórios são atípicos e se existe mudança na pressão contra os objetos?
-Desenvolvimento Dentário:

-Observar as condições de gengiva (coloração), elas estão úmidas e frescas ou existem evidências de infecção?
-Mandíbula:
-A mandíbula e maxila estão ocluídas?
-Existe oclusão assimétrica?
-A mandíbula está posteriorizada em relação a maxila ou vice-versa?
-Os movimentos de mandíbula podem ser separados dos movimentos do resto do corpo ou só são possíveis através de extensão e flexão?



-Lábios:
-Os lábios estão ocluídos, entreabertos, sugados ou pressionados um contra o outro?
-A função labial está afetada pelo tônus?
-Língua:

-Qual é a posição de repouso da língua? (Anteriormente entre os lábios, retraída em direção à faringe, Desviada para um dos lados).
-Um volume arredondado de língua é observado invés de uma postura mais plana?
-Qual é o tônus da língua?
-Voz e Respiração:
-A criança normal mostra um grau de respiração rápida. Este grau muda quando a criança é estimulada mas normaliza-se rapidamente após.
-Na criança portadora de Paralisia cerebral o grau de respiração não retorna rapidamente ao normal.
-O padrão respiratório é torácico, abdominal ou misto?
-Como é a qualidade vocal desta criança: normal, soprosa, forçada?
-Os sons são vocais ou nasais?
-Afonia intermitente: atribuída a inabilidade em atingir vibrações regulares e adução de cordas vocais. 
-Articulação:
-O terapeuta deve avaliar a variedade e a qualidade dos sons (sons que variem em termos de maneira, lugar e vocalização). A produção de sons nas várias partes da boca está intimamente relacionada com postura e posição do corpo.


 Palestra apresentada por Lean Fontain Franco (baseado no trabalho de Agnes Wettstein) na 2° Jornada Paranaense de Fonoaudiologia, promovida pela Associação Paranaense de Fonoaudiologia, em 11/11/95.

Nenhum comentário:

Postar um comentário