O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, observa
Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH),
discursar durante o lançamento da Iniciativa BRAIN
(Official White House Photo/Chuck Kennedy)
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta
terça-feira um ambicioso programa multidisciplinar que, com um
investimento inicial de 110 milhões de dólares, pretende traçar um
mapeamento do cérebro humano para auxiliar a cura de doenças como
Alzheimer e epilepsia.
"Os Estados Unidos são uma nação de sonhadores, de gente que se
arrisca", afirmou Obama no Salão Oval da Casa Branca diante dos
cientistas e empresários envolvidos na iniciativa. "Agora é o momento de
alcançar um nível de pesquisa e de desenvolvimento que não observávamos
desde os tempos mais intensos da corrida espacial", completou o
presidente. "Os computadores, a internet e outros avanços nasceram com
financiamento do governo, e o próximo grande projeto dos Estados Unidos
será a iniciativa do cérebro", ressaltou Obama.
Oficialmente conhecida como
Breakthrough Research And Innovation in Neurotechnology (Pesquiva
de ponta e inovação em neurotecnologia - BRAIN, na sigla em inglês), a
iniciativa tem uma atribuição de 110 milhões de dólares no projeto de
orçamento para o período fiscal 2014, que, por sinal, o governo de Obama
divulgará ainda neste mês.
No começo do programa, se Obama obtiver o apoio do Congresso, os
Institutos Nacionais de Saúde (National Institutes of Health - NIH)
gastarão 40 milhões de dólares, a Agência de Projetos de Pesquisa
Avançada (Defense Advanced Research Projects Agency - DARPA) do
Departamento de Defesa repassará outros 50 milhões de dólares, enquanto a
Fundação Nacional de Ciências (National Science Foundation - NSF)
cederá outros 20 milhões.
Segundo declarações de cientistas envolvidos no projeto ao jornal
The New York Times,
a pesquisa demandará recursos federais da ordem de 300 milhões de
dólares ao ano. Vários institutos particulares de pesquisa estão
envolvidos no projeto, entre eles o Allen Institute, criado pelo
milionário fundador da Microsoft Paul Allen, que destinará 60 milhões de
dólares ao ano para o projeto, o Howard Hughes Medical Institute, maior
instituição de pesquisa médica privada (30 milhões por ano), o Salk
Institute (28 milhões de uma vez só) e a Fundação Kavli (4 milhões por
dez anos).
Em busca da cura — Entre os objetivos da iniciativa
lançada nesta terça-feira, destaca-se o auxílio aos cientistas para
encontrar maneiras de tratar, curar e, inclusive, prevenir doenças como o
Alzheimer, Parkinson e a epilepsia, além de tentar encontrar maneiras
de reparar traumatismos crânio-encefálicos e patologias psiquiátricas.
"Fizemos avanços científicos e tecnológicos assombrosos em apenas
poucas décadas, mas ainda não deciframos o mistério desses 1.300 gramas
de matéria situados entre nossas orelhas", disse Obama. "Há ali 100
bilhões de neurônios que fazem trilhões de conexões."
Retorno financeiro — Obama já tinha anunciado sua
decisão de lançar um programa de prospecção cerebral durante seu
discurso sobre o Estado da União, no último dia 12 de fevereiro, quando
se referia a outra iniciativa parecida: "cada dólar investido no Projeto
Genoma Humano rendeu 141 dólares em benefícios econômicos."
O governo dos EUA investiu 3,8 bilhões de dólares no Projeto Genoma
Humano ao longo de 13 anos e, de acordo com alguns analistas, os
resultados gerados pela ampla pesquisa geraram aproximadamente 796
bilhões de dólares em atividade econômica.
Mapeamento minucioso — A iniciativa do BRAIN foi
iniciada em uma conferência de neurocientistas em 2011 na Inglaterra,
onde foi proposto um esforço de grande magnitude e coordenado para o
desenvolvimento de tecnologias para o estudo da atividade do cérebro e
para "medir cada faísca de cada neurônio" em um circuito neural.
O estudo das complexas estruturas neurais do cérebro poderia combinar
ferramentas tradicionais, como imagens de ressonância magnética, com
tecnologias mais inovadoras, como os nanossensores e as sondas sem fios
de fibra óptica implantadas no cérebro, além de células modificadas
geneticamente que podem ser conectadas com células do cérebro para
registrar sua atividade.
Ralph Greenspan, co-diretor do Instituto Kavli para o Cérebro e Mente
na Universidade de Columbia, afirmou que "o projeto de mapeamento
cerebral é diferente do Projeto Genoma, já que essa questão se mostra
muito mais complexa. Foi muito fácil definir qual era a meta do Projeto
Genoma Humano. Mas, neste caso, temos uma questão mais difícil e
fascinante: quais são os padrões de atividade em todo o cérebro e, em
última instância, como eles funcionam", afirmou Greenspan.
Além das novas nanotecnologias, o plano mobilizará a enorme capacidade
de processamento, análise e combinação de dados nos computadores, o que
atraiu empresas como Google, Microsoft e Qualcomm.
Cientista-em-chefe — A iniciativa norte-americana
divulgada por Obama não é a única anunciada neste ano sobre o cérebro.
Em janeiro, foi lançado um projeto europeu com orçamento de 1 bilhão de
euros (1,283 bilhão de dólares) para uma pesquisa chefiada por um grupo
suíço, destinada a produzir um modelo do cérebro baseado em uma
simulação feita por um supercomputador, usando as pesquisas feitas até
agora sobre as funções cerebrais.
No evento de lançamento do projeto na Casa Branca, Obama foi
apresentado como o "cientista-em-chefe" pelo diretor do NIH, Francis
Collins, e sua administração não hesita em demonstrar que, apesar dos
tempos de austeridade, os investimentos em ciência são essenciais.
"Estou feliz por ter sido promovido a cientista-em-chefe - levando-se
em conta minhas notas em física, não sei se eu merecia", disse o
presidente. "Mas dou à ciência a importância adequada, então talvez eu
tenha algum crédito", completou.
No entanto, a iniciativa também tem seus críticos. "Uma coisa é que se
atribuam fundos para a neurociência. Outra coisa é termos um projeto
centralizado de dez anos para 'resolver o cérebro'', criticou em seu
blog o biólogo Michael Eisen, da Universidade da Califórnia.
Fonte: Revista Veja