Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Andressa frequenta uma escola estadual
pouco adaptada a cadeirantes. Ela terá aula de matemática só no ano que
vem, porque para chegar na sala existe uma escadaria
Falta acessibilidade nos colégios regulares
Estrutura arquitetônica inadequada atrapalha locomoção de alunos com deficiência física. Principalmente em escolas estaduais
Publicado em 09/05/2011 | Jônatas Dias Lima e Rafael Costa, especial para a Gazeta do PovoQuando Cleia Camargo dos Santos transferiu a filha Andressa, 17 anos, de uma escola especial para uma de ensino regular não esperava ter de lutar tanto para conseguir uma rampa. Assim como o irmão Geovani, 15 anos, Andressa nasceu prematura e teve paralisia cerebral. Por ser cadeirante, depende de infraestrutura adequada para ter acesso aos ambientes do colégio, mas, como em 77% das escolas do país que atendem do 6.º ao 9.º do ensino fundamental, segundo o Censo Escolar 2010, o colégio de Andressa não apresenta as condições básicas para receber pessoas com deficiência.
As dificuldades para Andressa estudar no ensino regular começaram no momento da matrícula. Segundo a mãe Cleia, o Colégio Estadual Maria Montessori, em Curitiba, não queria aceitar a aluna por não ter condições para receber cadeirantes. Quando Cleia conseguiu a vaga, o problema passou a ser vencer a ausência de uma estrutura básica de acessibilidade. “No começo íamos sempre eu e meu marido e erguíamos a cadeira de rodas para subir a escada. Demorou um pouco para fazerem rampas“, conta Cleia. Uma das rampas hoje existente foi paga por um candidato a deputado estadual.
O caso de Geovani foi resolvido de maneira mais simples. A Escola Municipal Eny Caldeira já contava com as rampas e barras necessárias para cadeirantes e, desde o início do ano letivo, o aluno pode chegar aos mesmos ambientes que os outros estudantes. “Tinha sempre alguém para acompanhá-lo no recreio e as crianças o aceitaram muito bem”, conta a mãe.
Desde que os filhos saíram da Escola de Educação Especial Nabil Tacla, que atende apenas até o 4.º ano do ensino fundamental, a rotina de Cleia e do marido Daniel mudou completamente. Até o ano passado, um ônibus adaptado para pessoas com deficiência fazia o transporte de Andressa e Geovani, ambos tinham fisioterapia, hidroginástica e eram atendidos por um ortopedista no local. Agora, em escolas regulares, Cleia terá de deixar o emprego para manter o acompanhamento médico dos filhos.
Números
De acordo com a prefeitura, das 179 escolas municipais de Curitiba, cerca de 70% já passou por processo de adaptação. As unidades, no entanto, só são reformadas quando uma criança com deficiência passa a frequentar as aulas. Na rede estadual a situação é mais crítica. Segundo a Secretaria de Estado da Educação, dos 2.150 prédios escolares, apenas 110 têm condições de acessibilidade (pouco mais de 5%). A secretaria justifica que o baixo número de escolas adequadas deve-se ao tempo de construção dos edifícios: 50% têm mais de 30 anos e as primeiras normas arquitetônicas referentes à acessibilidade datam de 1983.
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