Brasil tem alta taxa de prematuros
O número de nascimentos prematuros no Brasil – principal
causa de morte até os 28 dias de vida do bebê – se assemelha ao de
países de baixa renda. A cada mil brasileiros nascidos em 2011, 117 não
chegaram a completar 37 semanas de gestação. Em países pobres, foram 118
prematuros para mil partos, contra 94 nos de renda média. O dado
nacional é bastante superior ao que vinha sendo considerado pelo
Ministério da Saúde até então – 7,2% – e tem relação com as altas taxas
de cesáreas eletivas praticadas no país. É o que afirma o estudo
“Prematuridade e suas possíveis causas”, desenvolvido na Universidade
Federal de Pelotas, com participação de 12 universidades brasileiras e
apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).O obstetra Carlos Miner Navarro, professor da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), explica que existem dois tipos de
prematuridade: um que pode ser minimizado com medidas como
acompanhamento pré-natal, por meio de utrassonografia, e outro
diretamente relacionado à escolha pela cesariana. No primeiro caso, se o
exame indicar que o colo do útero é curto, é feita medicação para
atrasar a data do parto. “Estudos mostram que uma ou duas semanas fazem
muita diferença no desenvolvimento do bebê”, explica.
O desafio, porém, é reduzir o número de cesáreas eletivas no
país. Segundo Navarro, se o parto normal fosse priorizado no país, a
taxa de prematuridade cairia. Atualmente, o número de cesarianas supera o
de partos naturais, chegando a 80% dos nascimentos em hospitais
privados. “Exceto em casos específicos, o parto normal é sempre melhor.
Há margem de erro nas contas das semanas e, muitas vezes, o bebê é
retirado sem estar pronto. O trabalho de parto termina de amadurecer a
criança, joga uma série de hormônios na corrente sanguínea e fortalece o
tórax.”
Segundo a pediatra e neonatologista Regina Cavalcante,
coordenadora da UTI neonatal do Hospital de Clínicas, entre as causas
de partos prematuros, estão assistência pré-natal inadequada, uso de
drogas, gravidez gemelares e fora da idade ideal. “Os dois extremos são
risco: as mães adolescentes e as mães acima de 35 anos.”
As preocupações com o bebê prematuro, vão além da
mortalidade. Expostos a tratamentos agressivos e ao ambiente de terapia
intensiva, há risco de infecção e de sequelas neurológicas,
respiratórias e de visão. “Quanto menor o bebê, maior o risco de
retinopatias, que podem causar cegueira”, completa Regina.
Pediatra na UTI neonatal do Hospital Nossa Senhora das
Graças, Rejane Biasi Cunha explica que o peso nem sempre é o fator mais
determinante para a sobrevivência do bebê. “A idade funcional é mais
importante, porque às vezes ele pesa pouco por ser desnutrido e não é
tão prematuro.”
Parto normal, uma escolha feliz
Enquanto fazia o pré-natal do primeiro filho, há três anos, a
fotógrafa e publicitária Laiz Zotovici Martins, 33 anos, foi
desaconselhada pelo médico a tentar parto normal. “Ele disse que eu não
tinha dilatação, contração e agendou a cesárea para 39 semanas e meia.
Sendo que poderíamos ter, pelo menos, esperado eu entrar em trabalho de
parto”, recorda. Seis meses depois do nascimento de Antônio, Laiz criou
um blog sobre maternidade e começou a trocar informações com médicos e
outras mães pela internet.
Quando veio a segunda gravidez, no final do ano passado, ela
estava decidida a encontrar um obstetra adepto do parto normal. “Foi
uma escolha bem feliz! Na mesma semana do parto, já estava lavando
roupa, fazendo comida e podendo brincar e dar atenção ao Antônio.”
Segundo Laiz, o segundo filho, Théo, apresenta imunidade
maior do que o primogênito. “O parto é um sofrimento necessário para o
fortalecimento do pulmão, e, para a mulher, é uma experiência única e
profunda de autoconhecimento. Se eu tiver outro filho, será de parto
normal, talvez até em casa.”
80% é a taxa de sobrevida dos prematuros nascidos entre 28 e
37 semanas. Mas a pediatra Rejane Biasi Cunha explica que esse
porcentual varia muito, e cai para 60% com gestação inferior a 28
semanas. Abaixo de 22 semanas não há maturidade suficiente para o bebê
sobreviver.
Fonte: GAZETA DO POVO
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