segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Droga melhora movimentos em camundongos que sofreram lesões na medula

Placas amiloides bloqueiam e matam neurônios do cérebro em pacientes com Alzheimer.
Substância protege os prolongamentos dos neurônios após lesões na medula espinhal (Thinkstock)

Até hoje, pouco pode ser feito após um trauma na medula espinhal, o grande feixe de nervos que liga o cérebro ao resto do corpo. O tratamento padrão adotado é a administração da metilprednisolona, que precisa ser dada no máximo até oito horas após a lesão. Ela evita que a inflamação causada pelo trauma afete totalmente a parte motora e a sensibilidade do paciente — poucas vezes com sucesso, nunca com êxito total.
A face mais visível do trauma na medula é perda de movimentos nos membros, como pernas e braços, mas há outros fatores que impactam negativamente a qualidade de vida do paciente, como a falta de controle sobre a bexiga e o intestino, disfunção sexual e dores crônicas. Por isso, um remédio que possa restaurar essas funções, mesmo que não traga os movimentos de volta, já seria uma extremamente bem-vindo.

Na última quarta-feira, Sung Ok Yoon, professora associada de bioquímica molecular e celular na Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, anunciou um dos mais promissores medicamentos dos últimos tempos, desenvolvido em conjunto com Frank Lugo, professor de neurologia e ciências neurológicas na Universidade de Stanford. É necessário frisar que os estudos foram feitos por enquanto apenas em camundongos, e portanto estão longe dos testes em humanos, mas os resultados, publicados na edição desta semana do respeitado Journal of Neuroscience, foram animadores.
O remédio experimental, tomado por via oral, se chama LM11A-31 e foi capaz de melhorar o movimento dos membros nos roedores que tomaram as maiores doses da substância, 100 miligramas por quilo de peso corporal — alguns receberam doses de 10 ou 25 miligramas. Os camundongos nos quais foram administrados a mais alta dose conseguiram dar passos bem coordenados e também foram bem nos testes nadando. Os que receberam doses mais baixas tiveram dificuldades em ambas as tarefas. Os animais sofreram lesões na medula espinhal que simulam as sofridas pelos humanos, resultando em dificuldade para caminhar, nadar e na perda da sensibilidade nos membros posteriores e da função da bexiga.
Outra boa notícia é que o medicamento não aumentou a dor entre as cobaias e demonstrou não ter efeitos tóxicos. “Esta é a primeira droga que pode ser tomada oralmente que melhora a função da medula espinhal e funciona sozinha”, afirmou Sung Ok Yoon. Diferentemente da metilprednisolona, ela não precisa ser tomada apenas nas primeiras oito horas depois do trauma e pode se tornar uma nova terapia em potencial para lesões na medula espinhal.

Morte celular — A droga chamou atenção dos pesquisadores por inibir a ação de uma proteína chamada p75. Quando uma lesão na medula acontece, essa proteína destrói os oligondendrócitos, células que produzem a mielina, um espécie de protetora dos axônios, filamentos que conduzem os sinais químicos e elétricos das células cerebrais. A mielina é como uma fita isolante que protege os os fios, no caso, os axônios. E quem produz essa fita são os oligondendrócitos. “Nós sabíamos que os oligodendrócitos continuavam a morrer um longo período após uma lesão, então achamos que se pudéssemos pôr um freio na morte dessas células poderíamos prevenir a degeneração dos axônios”, disse Sung Ok Yoon.
Nos animais do grupo placebo, que não receberam o medicamento, houve uma perda de 75% dos axônios com mielina na área da lesão, prejudicando a transmissão de informações do cérebro para o restante do organismo. No grupo que recebeu doses de 100 miligramas os axônios com mielina alcançaram mais da metade dos níveis normais. E isso foi correlacionado com um aumento de 50% de oligodendrócitos sobreviventes comparados aos do grupo placebo.
"Esse medicamento pode ser importante para manter vivas células importantes para a manutenção dos neurônios", diz Jorge Pagura, neurocirurgião do Hospital Albert Einstein e professor titular de neurocirurgia da Faculdade de Medicina do ABC. O médico não acredita, porém, que a droga possa servir no futuro para recuperar o movimento dos pacientes. "Apesar de ser um grande avanço no laboratório, no momento estamos longe de pensar que uma medicação desse tipo possa devolver os movimentos depois do trauma."

Publicado originalmente em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/droga-recupera-movimentos-parciais-em-camundongos

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