A criança se comporta como se estivesse em perigo, grita, o coração
fica acelerado. Parece ver ou sentir algo amedrontador, mas, apesar de
toda a agitação e de até ficar de olhos abertos em alguns casos, ela
está dormindo. A cena, descrita pela psicóloga clínica e terapeuta
cognitiva Margarida Antunes Chagas, retrata um episódio do chamado
terror noturno, distúrbio do sono incidente, principalmente, entre os
seis e os 12 anos.
“Embora sério no momento em que ocorre, pois
costuma assustar quem o presencia pela intensidade da manifestação,
esse distúrbio é benigno e tende a desaparecer com o tempo, conforme o
amadurecimento dos mecanismos do sono”, afirma a neurologista Márcia
Pradella-Hallinan, coordenadora do setor de pediatria do Instituto do
Sono, em São Paulo.
Segundo a médica, é como se o cérebro não soubesse ainda alternar entre
os estágios do sono e ficasse “encalhado” entre eles. Essa dificuldade
de transição faz com que haja sobreposição do sono profundo com um
despertar, daí a crise é desencadeada. A criança parece que está
sonhando ou que teve pesadelo, mas não se lembrará de nada,
independentemente se acordar durante o episódio ou na manhã seguinte.
O fato de a criança não se lembrar é um dos fatores que diferencia o
terror noturno de um pesadelo comum. No caso do sonho ruim, ela é capaz
de contar sobre o que estava sonhando e às vezes até de identificar o
que a deixou com medo. No terror noturno, é como se nada tivesse
acontecido.
“O pesadelo e os episódios de terror acontecem em
fases distintas do sono. O primeiro tem lugar no chamado sono REM, mais
próximo do despertar, quando o sono está mais superficial. Já o segundo
acontece em um período bem profundo do sono”, diz o neurologista Saul
Cypel, neuropediatra do Hospital Israelita Albert Einsten, de São Paulo,
e consultor da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, voltada à primeira
infância.
Para ajudar os pais a lidarem com esse distúrbio, o
UOL Gravidez e Filhos reuniu informações sobre as perguntas mais frequentes sobre o assunto:
O terror noturno é herdado?
De acordo com a especialista Márcia Pradella-Hallinan, não há um gene
que transmita o terror noturno, mas a forma como a criança amadureceu em
relação ao sono pode ter sido “herdada” de familiares. A especialista
diz que mais da metade das crianças com qualquer manifestação de
parassonia do despertar –sonambulismo, terror noturno, choro
inconsolável do bebê– tem um parente próximo que teve o mesmo quadro.
Quanto tempo dura um episódio de terror noturno? O que acontece com a criança durante a crise?
A duração é de cinco a 15 minutos em média. Segundo a psicóloga
Margarida Antunes Chagas, durante a manifestação, a criança pode até se
levantar da cama. Se acordar abruptamente, continuará amedrontada, pode
não reconhecer as pessoas e ficar agressiva.
O que fazer quando acontece uma crise?
Se a criança sair da cama, os pais devem conduzi-la calmamente para que
ela se deite de novo, sem acender luzes ou expô-la a fatores que possam
despertá-la. Acordá-la, em vez de interromper a crise, pode prolongar o
episódio.
É necessário acompanhar o momento e oferecer proteção
e carinho, principalmente nos casos em que a criança apresenta
sonambulismo ou comportamento agressivo, correndo o risco de causar
danos físicos a si. Para evitar que ela se machuque, algumas medidas
preventivas são necessárias, como colocação de redes de proteção em
janelas e portões em escadas e esconder chaves e objetos cortantes.
Estabelecer uma rotina tranquila antes de ir para a cama pode evitar as manifestações?
Segundo a neurologista Márcia, do Instituto do Sono, ajudar a criança a
ter um sono mais tranquilo não impede que o terror noturno se
manifeste.
“De toda forma, ter cuidados com a alimentação,
investigar se algum medicamento em uso pode estar acentuando os
episódios, diminuir a ansiedade, caso a criança esteja passando por um
momento de estresse, e oferecer conforto físico e emocional antes do
sono é sempre muito importante”, afirma a terapeuta Margarida Antunes
Chagas.
Com que frequência pode acontecer e quando os pais devem procurar ajuda?
Na maioria das vezes, os episódios são esporádicos e o período de
ocorrência varia de criança para criança. Algumas têm semanalmente,
outras no espaço de dez a 15 dias. Em casos raros, várias vezes durante a
mesma noite.
“Se forem frequentes, vale a pena procurar um
especialista para avaliação. Quando a qualidade do sono da família
estiver sendo prejudicada e tiver havido acidente associado a um
episódio, é indicado procurar ajuda médica”, diz Márcia
Pradella-Hallinan, do Instituto do Sono.
Para a psicóloga
Margarida, também é válido procurar um médico no caso de a criança
apresentar prejuízos emocionais ou em suas atividades diárias.
Fatores emocionais podem ter ligação com as crises de terror noturno?
“Servem como favorecedores em um terreno predisponente”, afirma a
neurologista do Instituto do Sono. Quando a criança não tem
predisposição, segundo a profissional, a chance de um episódio acontecer
é muito menor.
No entanto, para o neuropediatra Saul Cypel, do
Einstein, os fatores emocionais devem ser levados em conta. “Pela
observação em consultório, vejo que muitas crianças que apresentam o
distúrbio têm também algum transtorno em seus aspectos emocionais.” De
acordo com Cypel, por vezes, são intolerantes durante o dia e apresentam
dificuldade de lidar com regras.
Para o neuropediatra, crianças
que manifestam certa dose de insegurança e medo quando estão acordadas e
que não têm maturidade emocional adequada para a idade tendem a
manifestar, mais do que as outras, alterações do sono. Daí a importância
de os pais buscarem orientação de como lidar com o filho que apresenta
esse tipo de distúrbio não apenas no que tange o problema, mas também em
outros aspectos comportamentais.
Fonte: http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2012/11/29/terror-noturno-e-comum-entre-seis-e-12-anos-veja-como-agir-se-seu-filho-sofre-do-problema.htm