quinta-feira, 13 de junho de 2013

"Disseram que eu não seria capaz de cuidar da minha filha deficiente"



Sérgio Chvaicer/AACD
Daiane Farias e a filha Ana Clara, portadora de má-formação congênita

Livro mostra com imagens o amor incondicional de mães de portadores de deficiências. Conheça duas histórias de superação e luta contra o preconceito

Mal sabe a pequena Ana Clara, de apenas um ano e 11 meses, da luta que a mãe Daiane Farias enfrenta para que ela receba a mesma educação das crianças sem deficiência.
Ana Clara é portadora de uma má-formação congênita que afetou braços e pernas, deixando problemas de locomoção. O amor de mãe, porém, não permitiu que as dificuldades se tornassem empecilhos – e Daiane faz todo o esforço para que a filha tenha acesso aos tratamentos necessários ao desenvolvimento.
Essa é apenas uma das histórias de amor incondicional entre mães e seus filhos portadores de deficiências físicas. Elas são ilustradas pelas fotografias do livro Que amor é esse? , projeto da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), lançado nesta quinta-feira (13), às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. A renda obtida com as vendas será revertida para a instituição.
A mãe da Ana Clara, Daiane Farias, estava no quarto mês de gestação quando recebeu a notícia de que a filha nasceria com deficiência.
“Fiquei apavorada e saí do hospital desnorteada, quase desmaiei. Um médico me indicou outro hospital para fazer o exame morfológico e acompanhamento”, conta ela.
Apesar do baque, Daiane nunca teve dúvida do amor que sentiria pela filha.
“Fiquei com medo de ter depressão, medo das coisas que o mundo tem para oferecer para minha filha e das dificuldades que ela enfrentará no futuro, mas nunca tive medo de não amá-la. Tinha certeza de que a amaria não importando em que condição ela viesse”, conta ela.
E o amor declarado se manifestou quando ela começou a passar por dificuldades que não estavam nos planos: o preconceito começou já no acompanhamento da gravidez.
“Aos cinco meses e meio um médico me chamou de lado e se ofereceu para interromper a gestação. Ele alegou que eu não seria capaz de cuidar da minha filha. Saí de lá e passei mal na hora. Não aceitaria a proposta jamais, porque acredito que ela veio assim porque é da vontade de Deus”.
Mas Daiane precisou aprender a lidar com situações do tipo, já que o pré-natal continuou sendo feito no mesmo lugar. Segundo ela, numa das consultas, o mesmo médico disse: “Sabe quando um raio cai na cabeça de alguém? Pois é, caiu na sua”, conta Daiane.
“Tive a sensação de que ele falava só para prejudicar e não sabia o que eu estava sentindo por dentro”, lamenta.

A gravidez foi o momento para trabalhar a estrutura psicológica, tanto para aprender a aceitar os futuros limites da filha como para valorizar cada aprendizado dela. Com apenas quatro meses de idade, Ana Clara foi chamada para se tornar paciente da AACD.
“Lá a Ana Clara tem fisioterapeutas que a acompanham, ela faz terapia ocupacional e aquática. É muito estimulante”, conta Daiana, ressaltando que lá é atendida por médicos excelentes.
O preconceito, infelizmente, ainda existe no dia a dia, e é denunciado pela mãe.
“Não é ‘esfregado na cara’, mas aquele no olhar das pessoas, a maneira que te abordam para falar. Procuro não dar atenção, senão não consigo viver”, conta.
Ana Clara, que hoje tem 63 centímetros de altura, gosta de conversar e se locomove arrastando-se pelo bumbum. “Ela até aprendeu a cair, de um modo que não machuca o bracinho”, conta a mãe com orgulho.
Felipe Amorim, 12 anos, também começou na AACD aos 4 meses de vida. Ele tem má-formação congênita, descoberta apenas no nascimento prematuro.
“Eu não tinha noção de nada sobre a deficiência dele. Eu e meu marido achávamos que ele não iria andar, jogar bola ou fazer coisas típicas das crianças”, conta a mãe, Daniela Amorim.
Mas a surpresa veio aos dois anos, quando Felipe deu os primeiros passos.
“É inesquecível, foi o momento mais importante da minha vida. Não dá para descrever a emoção de vê-lo andar”, conta a mãe do garoto que hoje, além de andar, correr, jogar bola e brincar, também disputa medalhas em campeonatos de natação, esporte que começou a praticar na AACD.
“No mês passado ele voltou para casa com três medalhas. Ganhou prata nos 50 metros livres, outra prata nos 50 metros peito e ouro nos 50 metros costas. Agora ele se inscreveu para participar dos jogos paraolímpicos escolares e aguarda o resultado”, conta com orgulho a mãe – desde o nascimento do filho, ela dedica 100% de seu tempo ao menino.
Apesar de todas as alegrias proporcionadas pelas consquistas de Felipe, a família não ficou livre do peso do preconceito.



Fonte:  Elioenai Paes , iG São Paulo

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