Nasceu no último sábado, dia 15 de junho, em São Paulo, o primeiro bebê a ser submetido, ainda dentro do útero, a uma cirurgia feita com uma técnica brasileira
até então inédita no mundo para tratar mielomeningocele, ou espinha
bífida. Essa é uma doença congênita da medula espinhal que pode causar
hidrocefalia ou fazer com que a criança perca a capacidade de andar.
Joaquim Reis Ubaldino nasceu aos sete meses de gestação e pesando 1,5
quilo. O bebê não precisou ficar na UTI e sua evolução está sendo “acima
do esperado”, segundo a médica responsável pela cirurgia.
A cirurgia feita em Joaquim, realizada no dia 1º de maio deste ano no
Hospital Samaritano, em São Paulo, fez uso de uma técnica desenvolvida
pela médica brasileira Denise Pedreira, especialista em medicina fetal e
perinatal, após 14 anos de estudo. Ao longo desses anos, Denise tinha
como objetivo colocar em prática uma abordagem mais rápida, barata,
segura e eficaz para operar fetos com espinha bífida. E parece que
conseguiu.
Técnica — A espinha bífida é caracterizada pela
má-formação dos ossos da coluna vertebral, que não se fecha totalmente
até o nascimento e faz com que a medula espinhal fique em contato com o
líquido amniótico (fluido que envolve o embrião no útero).
Na operação de Joaquim, Denise fez uso da endoscopia fetal, que exige
apenas alguns "furinhos" na barriga da gestante por onde entraram câmera
e instrumentos cirúrgicos. A medula do feto foi colocada no canal
medular, onde deveria estar desde o começo, e o buraco na pele deixado
pela medula que ficou exposta foi costurado pele com pele. Uma película
feita de celulose foi colocada sob a pele para evitar que a medula
prendesse na pele.
“Eu só havia testado essa técnica em animais até então. Por isso, havia
uma expectativa para saber se o procedimento também daria certo em um
ser humano”, disse Denise ao site de VEJA. “Havia muita ansiedade para
vermos se a pele dele foi completamente fechada, se ele não teria que
ser submetido a outra correção após o nascimento. E foi o que aconteceu:
sua pele estava completamente fechada.”
De acordo com a médica, Joaquim está mexendo as pernas, mas ainda corre
o risco de não conseguir andar. “Isso vai depender da altura da lesão
em sua medula. Mas o ortopedista que avaliou o bebê está muito confiante
de que ele vai conseguir andar”, diz. Denise explica que os resultados
finais da cirurgia em Joaquim somente poderão ser completamente
observados quando ele tiver entre um e dois anos.
Próximos passos — Quase duas semanas depois da
operação de Joaquim, Pedro foi o segundo bebê a receber a cirurgia
desenvolvida por Denise Pedreira. E, na próxima segunda-feira, a médica
realizará a operação no terceiro bebê. “Médicos dos Estados Unidos devem
vir ao Brasil para acompanhar a cirurgia pois estão interessados na
técnica”, diz Denise. “Antes, o procedimento era desconhecido e não
sabíamos de que forma indicá-lo pois nunca havia sido feito em seres
humanos. Agora sabemos que dá bons resultados e é uma boa opção para
operar bebês com espinha bífida.”
Fonte: Revista Veja
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