Para
entender o autismo, um grupo de pesquisadores da Universidade de São
Paulo (USP), em parceria com o professor Alysson Muotri, da Universidade
da Califórnia, nos Estados Unidos, está desenvolvendo um projeto
chamado "A Fada do Dente". Durante o estudo, os pesquisadores têm
coletado dentes de leite de crianças com autismo para - a partir das
células da polpa (parte mole e avermelhada) - transformá-las em
células-tronco diferenciadas em neurônios. Com isso, pretendem
identificar as diferenças biológicas existentes nos neurônios com
autismo, estudar o funcionamento e testar drogas.
"O foco do estudo é procurar entender o que acontece
dentro do cérebro do paciente com autismo", disse Patrícia Beltrão
Braga, bióloga, professora da USP e coordenadora da pesquisa no país, em
entrevista à Agência Brasil. Segundo ela, para que isso ocorra, seria
preciso acessar as células que estão dentro do cérebro dos autistas. A
ideia, então, foi recriar um modelo análogo, baseado na técnica
desenvolvida pelo japonês Shinya Yamanaka, ganhador do Prêmio Nobel de
Medicina no ano passado.
Ele desenvolveu um método de reprogramação de uma célula
já adulta transformando-a em uma célula-tronco semelhante às
embrionárias, ou seja, as células adultas são rejuvenescidas até a fase
correspondente a seis ou sete dias após a fecundação do óvulo. "A partir
deste momento, pegam-se essas células e se produzem os neurônios, já
que essas células embrionárias têm a capacidade de virar qualquer tecido
ou órgão do corpo", explica a pesquisadora.
Patrícia aprendeu a técnica de reprogramação celular
desenvolvida por Yamanaka em 2008, quando foi aos Estados Unidos. Um ano
depois começou a aplicá-la aqui no Brasil a partir das células de polpa
de dentes de leite. "Pegamos as células de polpas de dentes de leite e
produzimos as células embrionárias, que não são embrionárias de verdade e
são chamadas de pluripotentes induzidas [técnica que rendeu o prêmio a
Shinya Yamanaka]", disse. "A gente programa essas células como se as
puséssemos numa máquina do tempo: elas [células] voltam no tempo e viram
células semelhantes às embrionárias para que depois consigamos induzir
essas células a se diferenciarem e a produzir neurônios", acrescentou.
A escolha pelas células da polpa do dente de leite se
deu, segundo Patrícia, principalmente pela facilidade de obtenção. Mas
ela também apontou outras vantagens: "Vimos que usando a célula da polpa
do dente o procedimento seria um pouco mais rápido. E outra coisa: a
origem embrionária das células dos dentes e do sistema nervoso é a
mesma, e a gente acredita que ela possa se diferenciar mais facilmente
em célula do cérebro do que outras que pudéssemos escolher. Por último,
esse dente cai e a pessoa o jogaria fora."
De início, o estudo pretende somente investigar a
doença. Depois, disse Patrícia, os pesquisadores também pretendem fazer
experimentações com medicamentos para ver se é possível reverter os
sintomas do autismo. "O autismo é uma doença neurodegenerativa,
classificada por uma tríade: basicamente o paciente tem uma dificuldade
de atenção - ou, muitas vezes, a criança não fala direito - dificuldade
de sociabilidade, ou seja, de se fazer amigos. Pode-se também ter
alterações de comportamento."
Os pais cujos filhos são diagnosticados com autismo
podem ajudar no projeto entrando em contato com os pesquisadores por
meio do e-mail projetoafadadodente@yahoo.com.br.
Os pais cadastrados recebem então um kit para recolher o dente do filho
quando ele cair. O kit é composto por um frasco com um líquido para
preservar as células, gelo reciclável e uma caixa de isopor para
mantê-las vivas. O único custo para os pais é com as despesas de envio
do kit pelo correio.
Mas caso o dente de leite da criança caia e o kit não
esteja por perto, a indicação é colocá-lo dentro de um copo com água
filtrada e deixá-lo na geladeira para que a polpa não seque e as células
não morram. O dente precisa ser colhido com rapidez para que seja
viável o uso das células e não pode ser congelado.
Fonte:
Agência Brasil
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