quinta-feira, 4 de julho de 2013

O nome é enduro paraequestre, mas pode chamar de terapia

Modalidade esportiva criada por funcionária pública de Curitiba ajuda na recuperação de adolescentes com deficiência
A paixão pelas cavalgadas e a vontade de proporcionar lazer para pessoas com deficiência levou uma funcionária pública de Curitiba a criar uma modalidade esportiva. Claudiane Crisóstomo Pasquali, praticante de cavalgada desde a infância, trabalha há dois anos na difusão do enduro paraequestre, uma competição de hipismo destinada a paratletas. A ideia surgiu meio por acaso e se transformou em uma experiência que está sendo replicada em outros estados. Claudiane é praticante de enduro, uma prova de longa distância em que o conjunto (cavaleiro e cavalo) atravessa grandes distâncias, passando por matas, rios e pontes. De atleta, ela passou a organizadora a partir do interesse de um amigo que, após um acidente de moto que lhe tirou o movimento das pernas, passou a praticar a equoterapia – um método de estímulo muscular com a cavalgada. Ele gostaria de saber como participar de um enduro, já que, apesar da limitação física, montava relativamente bem.
“Seria impossível já de começo, quando o atleta precisa correr ao lado do animal, puxando-o pela rédea, e apresentá-lo aos juízes”, relembra Claudiane. Mas ela percebeu que as adaptações eram possíveis. Começou a contatar outros centros de equoterapia à procura de mais interessados.

Início
A primeira prova de enduro paraequestre ocorreu em dezembro de 2011, com a participação de 20 competidores, em sua maioria crianças e adolescentes. Foram feitas alterações na estrutura do local da prova, como a instalação de barras no banheiro, e nos equipamentos de competição, como a colocação de uma rampa para que os cavaleiros pudessem alcançar a sela. O percurso foi encurtado. De 60 a 80 quilômetros, dependendo da prova, passou para 2 a 4 quilômetros. Os competidores são acompanhados por um cavaleiro auxiliar, montado, ou um auxiliar lateral, que segue a pé.
“Uma criança ganhou um troféu e ao chegar em casa, tarde da noite, foi acordar os vizinhos para mostrar a conquista”, conta Claudiane. A aceitação entre os centros de equoterapia foi rápida, e novos interessados ligavam para saber quando seria o próximo evento. A novidade “vazou” para outros estados, levada pelos juízes que vieram ao Paraná para arbitrar a prova. Existe o registro de duas provas similares realizadas há cerca de uma década em Brasília, o mais importante centro de equoterapia do país, mas jamais havia sido feita uma competição nesses moldes.
A idealizadora passou a divulgar o enduro paraequestre junto a outras federações de hipismo. São Paulo já promoveu competições e Minas Gerais está a poucos meses de ter o seu primeiro evento. Enquanto isso, o Paraná já tem uma seleção estadual, composta por cinco atletas, que participou de uma prova em Bragança Paulista (SP) ao lado de competidores convencionais. Ficaram em 4.º lugar.

“A gente sente o movimento das pernas como se fosse o nosso”
Aos 7 anos, Davi Lucas ainda precisava ficar de quatro para subir uma escada. O menino, acometido por paralisia cerebral, hoje é um dos integrantes da equipe paranaense de enduro paraequestre. Aos 11 anos, demonstrou grande evolução nos movimentos corporais desde que começou a fazer equoterapia. Também melhorou a sua autoestima e ganhou confiança para correr, brincar e interagir com outras crianças, segundo a mãe, a trabalhadora autônoma Claudia Omena. “Ele pensava que não tinha autonomia para fazer nada sozinho, e hoje participa de campeonatos e acumula premiações. Para nós, os pais, é uma honra vê-lo participando”, afirma.
Colega de equipe, Gabriel, 13 anos, tem uma história semelhante. Após cinco anos de terapia, demonstra melhoria no equilíbrio e venceu a timidez. Ao vê-los andar a cavalo, o desavisado jamais notaria que são crianças com dificuldades motoras. A coluna fica reta, as mãos apertam firme a rédea e as pernas permanecem rentes ao dorso do cavalo.
“É legal domar um animal bem maior que você, e aprender as manhas para que ele obedeça. A gente aprende a ter carinho por ele”, conta. “Quando o cavalo anda, a gente sente o movimento das pernas como se fosse o nosso”.

Fonte: Gazeta do Povo

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