Cientistas do Centro de Medicina Regenerativa, em
Barcelona, desenvolveram uma nova técnica para criar células-tronco. Os
pesquisadores descobriram novos genes que podem ser alterados em células
adultas comuns de modo a torná-las capazes de se transformar em qualquer tipo
de tecido do corpo humano. Isso pode, no futuro, ajudar no desenvolvimento da
medicina regenerativa: a substituição de tecidos danificados por células
criadas em laboratório.
As pesquisas mais importantes nesse campo são
feitas usando as células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs), que podem ser
criadas a partir de alterações no DNA de células comuns do próprio paciente,
eliminando o risco de rejeição imunológica. A fórmula clássica usada para
produzir essas iPSCs segue uma receita rigorosa, com poucas variações para
aplicação médica. Os pesquisadores anunciaram nesta quinta-feira, na
revista Cell Stem Cell, a
criação de iPSCs por um novo método, aumentando a possibilidade de uso clínico
da técnica.
Existem dois tipos de células-tronco: as
células-tronco embrionárias, que são as células presentes nos embriões humanos,
que ainda não se diferenciaram em nenhum tipo de tecido, e as iPSCs, células
maduras que foram reprogramadas geneticamente para voltar a um estado
semelhante ao embrionário. Desde que o pesquisador japonês Shinya Yamanaka
descobriu, em 2006, a técnica para produzir iPSCs — o que lhe rendeu o Prêmio Nobel do ano passado —, a maioria dos
cientistas usa esse tipo de célula em suas pesquisas.
A receita de Yamanaka leva em conta a alteração
de quatro genes para reprogramar as células maduras. A nova pesquisa descreve
uma nova abordagem, na qual a pluripotência pode ser induzida por meio de
alterações em outros sete genes.
Genes dispensáveis — Os
novos genes alterados pelos pesquisadores são aqueles responsáveis por produzir
proteínas responsáveis por iniciar o processo que leva uma célula-tronco a se
diferenciar para formar os vários tecidos do corpo humano. "Nós mostramos
que a pluripotência pode ser um estado funcional da célula", diz Juan
Carlos Izpisua Belmonte, pesquisador do Instituto Salk, nos Estados Unidos, e
um dos autores do estudo.
Segundo os pesquisadores, o mais importante é que
pela primeira vez um estudo com seres humanos conseguiu deixar de usar um gene
dos genes utilizados na receita original de Shinya Yamanaka: o Oct4. Os outros
três genes já haviam sido substituídos em pesquisa anteriores, mas o Oct 4 só
havia sido substituído em ratos — o que tornava aparentemente indispensável
para a reprogramação de células humanas.
Os cientistas destacam que seu trabalho deve
ajudar a superar o que eles apontam como um dos maiores obstáculos para a
adoção de tratamentos com células-tronco: como os quatro genes selecionados por
Yamanaka poderiam estar relacionados ao câncer, a terapia poderia levar ao
surgimento de tumores. Outros pesquisadores afirmam, no entanto, que esse
problema já foi superado nas pesquisas mais recentes com iPSCs. De qualquer
forma, o novo método pode ajudar os pesquisadores a compreenderem melhor como
funciona uma célula-tronco e acelerar sua adoção em tratamentos médicos.
Fonte: Revista Veja
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